Ilíada - Cap. 26: Capítulo 26 Pág. 129 / 178

Agamémnon, animado pelo apoio de Ulisses, insistiu com Aquiles, dizendo:

— Tem mais um pouco de paciência, recebe os presentes que te oferecemos e, depois de oferecermos libações aos deuses, poderemos sentar-nos juntos para comer.

Mas Aquiles não concordou e retrucou-lhe:

— Rei Agamémnon, deixa esses assuntos para uma hora mais adequada. Talvez quando houver uma trégua ou, então, quando a luta tiver terminado. Agora não tenho disposição para isso. Pátroclo foi assassinado por Heitor e convidas-me para um banquete! Por minha vontade, os gregos lutariam hoje sem comer e só depois dos mortos terem sido vingados é que comeriam até fartar. Deixa-os comer, se é mesmo necessário, mas que o façam depressa. Quanto a mim, não consigo pensar nem em comida nem em bebidas, só em morte e em vingança. Pátroclo jaz na minha barraca, morto e frio, com o corpo cortado e dilacerado. Não comerei, nem beberei, enquanto não o tiver vingado.

Uma vez mais, Ulisses tentou acalmá-lo com palavras suaves:

— Aquiles, és o maior guerreiro grego, bem melhor do que eu a batalhar, mas sou mais velho e mais experiente na vida e, portanto, melhor nos conselhos. Assim sendo, acata a minha opinião. Velemos os nossos mortos com o coração e não com o estômago. Durante uma guerra morrem muitos homens e, se todos agissem como tu, os seus antigos companheiros não poderiam fazer uma pausa nem para comer nem beber e, fracos, seriam certamente eles a sucumbir de seguida perante o inimigo. Não nos vamos limitar a velar os nossos mortos mas vamos, também, comer e beber para nos fortalecermos e vingarmos mais facilmente os nossos companheiros já falecidos.

Aquiles nada mais disse e recebeu os presentes que eram trazidos dos barcos de Agamémnon e colocados diante dele: sete trípodes, vinte caldeirões, muito ouro, doze cavalos, sete mulheres habilidosas e, por último, Briseida.





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