Ilíada - Cap. 27: Capítulo 27 Pág. 135 / 178

Todos os deuses concordaram com a ideia e foram sentar-se sobre a muralha, envolvidos em espessa nuvem. Apolo e Marte, por sua vez, galgaram um monte que havia à entrada da cidade e lá instalaram o seu posto de observação.

Os dois exércitos já invadiam a planície e as setas, como faíscas, cortavam o espaço. Eneias e Aquiles vinham na frente, avançando um para o outro.

O primeiro a atacar foi Eneias. Inclinou a cabeça, levantou o escudo e, de lança em riste, precipitou-se sobre o adversário. Aquiles esperou-o, desdenhoso, e, quando o viu bem próximo, disse-lhe:

— Eneias, porque abandonaste os teus companheiros de retaguarda? Vieste desafiar-me na esperança de um dia reinar sobre os troianos. Perdes o teu precioso tempo! Ainda que me derrotasses, não obterias grandes vantagens. Príamo está velho, mas é forte e viverá muitos anos. Além disso, tem filhos para lhe sucederem no governo de Tróia. Ou será que os teus patrícios te prometeram um belo domínio, melhor do que o dos outros, terras imensas e campos férteis, se me matares? Já te esqueceste do dia em que te fiz correr aterrorizado pelo Ida abaixo? Nem sequer ousaste olhar para trás. Naquele dia protegeu-te o rei do Olimpo, mas agora será inútil que peças o seu auxílio. O melhor é que te retires para junto dos teus companheiros. Vamos, some-te da minha vista, antes que seja tarde!

Eneias, enfurecido, replicou:

— Filho de Peleu, não me amedrontas com as tuas palavras. Também tenho língua para responder aos insultos e lança para revidar aos ataques. Já nos conhecemos há muito tempo. Sei que és filho do irrepreensível Peleu e da deusa Tétis. Mas tu também deves saber que meu pai é o generoso Anquises e minha mãe a deusa Vénus. Um pai terá hoje que chorar a morte de seu filho. Mas para quê ficarmos aqui a trocar injúrias e a falar da nossa linhagem? A minha decisão está tomada: em guarda!





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