Ilíada - Cap. 27: Capítulo 27 Pág. 134 / 178

Eneias respondeu:

— Porque me incitas a defrontar-me com aquele terrível guerreiro? Bem sabes que não seria essa a primeira vez que eu desafiaria Aquiles. Já uma vez, quando ele destruiu a cidade de Lirnesso, escapei de tombar às suas mãos. Júpiter livrou-me do perigo, ajudando-me a fugir. Não, não posso enfrentar Aquiles, pois ele anda sempre protegido por um deus que dele afasta a morte e lhe prepara o caminho da vitória. Mas se ao meu lado também estivesse um dos imortais, não lhe seria tão fácil vencer-me, embora ele se gabe de ser o melhor de todos os guerreiros.

Apolo, continuando disfarçado, retrucou-lhe:

— Ora, Eneias, se Aquiles é filho de uma deusa, tu também o és. Pelo que dizem, a tua mãe foi Vénus, a filha de Júpiter. Portanto, a tua linhagem é superior à dele. Tétis não é mais do que uma filha do oceano. Avança contra ele e não temas as suas injúrias e ameaças.

Com essas palavras, Apolo incutiu coragem no espírito de Eneias que, sem hesitar, avançou para as primeiras fileiras. Juno avistou-o correndo na direcção de Aquiles e reuniu os deuses para deliberar:

— Neptuno e Minerva — disse ela —, vede bem o que pode acontecer. Eneias, instigado por Apolo, avança contra Aquiles. É preciso que um de nós o obrigue a retroceder, ou que vá então imediatamente para junto de Aquiles, levar-lhe forças e palavras de conforto. Que ele saiba que é amado pelos melhores dos deuses e que os protectores dos troianos pouco valem.

— Não vos preocupeis com isso — disse Neptuno. —Nós somos os mais fortes e não devemos fazer provocações. Fiquemos por perto a observar o que se passa. Se, porém, Apolo ou Marte se meterem e procurarem atrapalhar Aquiles, nós entraremos em luta e obrigá-los-emos a refugiarem-se no Olimpo.





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