Ilíada - Cap. 32: Capítulo 32 Pág. 163 / 178

Mal acabara Aquiles de falar e Antíloco reclamou.

— Aquiles, isso não é justo, pois quem chegou em segundo lugar fui eu. Não tenho culpa dos danos que Eumelo sofreu no seu carro. É ele um homem excelente mas, se tivesse invocado melhor os deuses, talvez não lhe tivesse faltado o fôlego na corrida. Tens ouro e riquezas em abundância na tua barraca: se queres, pois, recompensá-lo, dá-lhe alguma coisa do que te pertence e todos ficaremos satisfeitos. Mas a égua cabe-me a mim, por direito, pois fui o segundo a chegar.

Aquiles riu-se das palavras de Antíloco, que era um dos seus melhores amigos, e respondeu-lhe:

— Está bem, Antíloco. Darei a Eumelo esta couraça que tirei de Asteropeu. É de bronze e estanho, muito valiosa. Creio que ele ficará satisfeito e tu podes ficar com o teu prémio.

Menelau, que ouvia em silêncio a discussão e estava irritadíssimo com Antíloco, interveio dizendo:

— Antíloco, perdeste o juízo? Até aqui julgava-te um companheiro leal mas fizeste batota para me passares à frente. Ou então, jura aqui, de pé diante do carro e dos cavalos, segurando na mão o chicote com que ganhaste a corrida, jura por Júpiter que não atrasaste o meu carro usando de fraude!
Caindo em si, Antíloco respondeu:

— Desculpa-me, Menelau. Sou mais moço do que tu e sabes bem o que é o ardor da mocidade. No momento só pensei em vencer a corrida e o que fiz não foi para te irritar, pois estimo-te e respeito-te. E, para te provar que estou arrependido, restituo-te a égua, que te cabe por direito, e ofereço-te ainda qualquer jóia que escolheres de entre as que possuo. Não quero que a nossa amizade sofra as consequências da minha leviandade.





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