Ilíada - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 23 / 178

Agamémnon levantou-se de imediato e, chamando Ulisses, avançaram ao encontro do rei troiano, enquanto os mensageiros traziam as oferendas. Os dois reis, depois de cumprirem os devidos rituais sagrados, fizeram o juramento de aceitar o resultado do combate individual como o fim da guerra.

Gregos e troianos animaram-se para assistir à luta, mas Príamo disse que voltaria para a cidade, pois não podia ficar a ver o seu próprio filho a lutar. E regressou a Tróia acompanhado por Antenor, triste por causa do filho, apesar de ser culpado e desprezível e de saber que o imortal Júpiter daria a vitória a quem a merecesse.

Heitor e Ulisses tiraram à sorte para ver qual dos dois, Páris ou Menelau, seria o primeiro a arremessar a sua lança contra o outro, e a sorte decidiu que o primeiro seria Páris.

Os dois contendores armaram-se, tendo Páris posto a couraça do seu irmão Licáon, por ser mais forte do que a sua. Colocou-se cada um no local que lhe competia e Páris foi o primeiro a atirar a lança que atingiu o escudo de Menelau, mas ficou com a ponta dobrada. O escudo era muito resistente pois era feito de camadas de couro forte, com uma superfície exterior de bronze. Chegou a vez de Menelau e este, antes de arremessar a lança, lembrou-se de implorar a protecção de Júpiter.

- Deus imortal, pai dos deuses e dos homens, protector do convidado e do hospedeiro, permiti que eu possa agora vingar-me de Páris que tanto mal me causou, a fim de que a minha vingança seja lembrada durante muitos anos e os homens se abstenham de praticar más acções na casa de um hospedeiro cortês.

Arremessou de seguida a sua lança com tamanha violência que esta passou através do escudo e da borda da couraça de Páris, chegando mesmo a rasgar-lhe a túnica de linho, mas sem o ferir. Menelau puxou imediatamente da espada, correu em direcção do seu adversário e atingiu-o no capacete com um poderoso golpe. Mas a parte posterior do capacete, onde estava presa a crista, era de um bronze tão forte que a espada se quebrou em quatro pedaços que tombaram no chão. Mas Menelau não se atemorizou e, mesmo desarmado, atirou-se a Páris e, agarrando-o pela crista do elmo, derrubou-o e começou a arrastá-lo para as fileiras gregas. Páris, quase sufocado pela tira de couro que lhe atava o capacete apertado no queixo, estava indefeso; repentinamente, a tira partiu-se e o elmo soltou-se, ficando nas mãos de Menelau. Este atirou-o para longe e precipitou-se de novo sobre Páris, pretendendo agarrá-lo pelo cabelo e segurá-lo firmemente até poder apanhar a sua lança do chão.





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