Ilíada - Cap. 30: Capítulo 30 Pág. 150 / 178

Mas foram vás todas as súplicas. Heitor estava decidido a esperar por Aquiles e a desafiá-lo para o combate. E enquanto aguardava a aproximação do seu inimigo, vacilava-lhe o espírito ante estas cogitações:

«Infeliz de mim se me abrigar atrás das muralhas! Não faltará quem me censure e me chame cobarde. O primeiro será Polidamas, que tanto m^t aconselhou a recuar quando ainda era tempo! Agora envergonho-me dá aparecer diante dos troianos, tendo sido o causador da sua derrota. Receie que as nossas mulheres venham a dizer: "Heitor, confiado na sua força deitou Tróia a perder!" Não, o melhor é aventurar-me: ou matarei Aquiles ou ele me matará. Antes morrer com honra, que viver como cobarde. Não seria melhor tirar este capacete pesado, desembaraçar-me do escudo imensa e ir ao encontro de Aquiles, prometendo-lhe devolver Helena com sua jóias, o tesouro que Páris trouxe de Esparta e todas as riquezas de Tróia contento que ele prometesse deixar-nos em paz? Mas. . . que ideia é esta Apresentar-me desarmado diante dele como suplicante? Ele não teria a menor compaixão e matar-me-ia como se mata um cão! Não, é preferível espera-lo aqui mesmo e lutar com ele enquanto me restarem forças!»

Com esses pensamentos a perpassarem-lhe pela mente, Heitor mantinha-se imóvel e expectante. Aquiles já vinha perto e o filho de Príamo pôde divisar-lhe o aspecto feroz e as armas cintilantes que despediam terríveis reflexos. Nem o deus da guerra tinha semblante tão carrancudo e horrendo como o de Aquiles naquele momento. Quando Heitor o fitou de perto, foi tomado de tão grande pavor que desatou a correr em volta da muralha. O rápido pálida precipitou-se sobre ele e corriam ambos com uma espantosa agilidade. Assim, chegaram ao lugar das fontes que alimentam o rio Escamandro. Era ali que as lavadeiras costumavam lavar a roupa dos heróis. Má s, naquele momento, foi pena que ninguém lá estivesse para presencia a vertiginoso corrida. Se se tratasse de um concurso, o prémio seria uma rãs ou a pele de um animal. Mas o que estava em jogo, de momento, era a própria vida de Heitor, que não corria como um homem disputando um prémio. Parecia antes um cavalo que foge ao combate, depois da morte do guerreiro que o conduzia.





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