- Isso é conforme. Às vezes... Aí está que, sendo eu amigo do mestre-escola como o sou e há tantos anos, estive há meses para o esmagar. E sabem porquê? Porque passava eu por a escola e ouvi chorar uma criança, e pareceu-me que era o meu pequeno; não me sossegou o coração sem que me afirmasse se era ele ou não. Entrei e vi o desalmado de Zé Domingues que mo desancava sem dó nem piedade. Escureceu-se-me a vista, entrei furioso por ali dentro, e por um triz que não deixava o homem a pernear. 
Os rapazes estavam já fora da porta quando Tomé acabou de contar o caso, e acrescentou: 
- Não, que se tratava de meu filho, e isto de amor de pai e de mãe... É como nos animais. Sabem aquela vaca malhada que eu tenho? Um borrego, com que uma criança brinca; pois haviam de vê-la uma vez em que lhe tiraram a cria! Estava furiosa e arremetia como um toiro bravo. É preciso cuidado com isto de pais e de mães! - concluiu o fazendeiro, em tom sentencioso e enfático. 
E, dando as boas-tardes aos três rapazes, fechou a porta, murmurando: 
- O padre ainda não aprendeu com a corrida que levou da abadia. E este Maurício a acompanhar com eles! Valha-o Deus. 
- Então que vos parece o Sr. Tomé? - perguntou o bacharel cá fora. 
- Não está mau com a história da vaca - disse o abade, rindo. 
Maurício conservou-se silencioso. 
- Tu a modo que vais assim embaraçado, ó Maurício? - observou o bacharel. 
- Estou arrependido de vos ter trazido comigo aqui - confessou Maurício. 
- Ora não sejas parvo! Querias talvez que fizéssemos muito gasto de excelências com a filha do Tomé da Póvoa? 
- É uma rapariga de educação, e o pai... - ia a dizer Maurício. 
- E o pai - atalhou o padre - anda-me chiando muito alto, mas bom será que tenha mais cuidadinho consigo.