XXXVII Maurício veio ao encontro da baronesa assim que esta saiu do quarto de D. Luís.
- Como deixaste meu pai? - perguntou ele.
- Mal e bem.
- Que queres dizer com isso?
- Mal, porque me inquieta o abatimento em que o vejo. Naquela idade!... Bem, porque o acho em excelentes disposições de se lhe aplicar um remédio heróico.
- Qual?
- Queres principiar hoje a tua carreira diplomática?
- De que maneira?
- Vais já daqui a casa do Tomé da Póvoa.
- Sim, e depois?
- É uma visita que lhe deves, visto que não te lembraste de lhe dar parte do nosso casamento.
- É verdade que não.
- Vai pois visitar Tomé. Repara que nem sequer me lembro de ter ciúmes de Berta.
- É uma prova de confiança, que te mereço.
- Sim? Mereces? Diz-te isso a consciência? Bom será. Vamos adiante. Em casa de Tomé contas qual o estado do teu pai. Fazes sentir a necessidade de que Berta volte para aqui, ou para o reanimar, do que só ela é capaz neste mundo, ou pelo menos para suavizar-lhe os últimos momentos e despedir-se dele. É provável que encontres objecções em Tomé, mas insiste; diz que teu pai se mostra magoado com a ausência de Berta, e que é um pecado imperdoável prolongar-lhe essa dor tão fácil de remediar. Finalmente não voltes sem ter resolvido Berta a vir hoje mesmo para aqui.
- E quais são os teus projectos?
- Ora quais hão-de ser? São casar Berta com Jorge. Está claro.
- Hás-de encontrar dificuldades.
- Já me pareceram maiores. O padre fez-nos, sem querer, um grande serviço. Meteu-se a advogar com tanto calor a aristocracia, que por pouco fazia de teu pai um democrata.
- Deveras?
- É verdade. Agora quatro carícias de Berta devem consumar a vitória. Vocês os homens levam-se por isso.
- Parece-te?
- Veremos se me engano.