XXIX A baronesa a ninguém participou, além de Jorge, a sua partida para Lisboa. Havia muito tempo que os principais preparativos estavam feitos, e por isso o movimento dos criados, que lhe executaram as últimas ordens, não se tornou notado.
Na véspera, à noite, Gabriela demorou-se mais tempo no quarto do tio e deu-lhe a entender que brevemente teria de deixá-lo por alguns dias, porque a sua presença era necessária em Lisboa, mas que voltaria e que seria então para demorar-se mais tempo.
D. Luís mostrou a mesma oposição a este projecto que já por vezes manifestara; mas a baronesa desta vez insistiu mais e obrigou-o a conformar-se com a ideia de uma próxima separação.
Na manhã seguinte, às horas a que o velho fidalgo costumava receber a primeira visita matinal da sobrinha, estava ele já impaciente, porque ela lhe tardava.
Já mais do que uma vez erguera os olhos para o mostrador do relógio fronteiro, e espreitara através das cortinas para a altura do Sol, e de cada vez que fizera esta observação acabara-a suspirando.
O pobre doente tinha tanta necessidade de falar com Gabriela! Havia nada menos do que um longo e complicado sonho a contar-lhe. E ela sem aparecer.
Depois de muito esperar, D. Luís ouviu enfim mexer na chave da porta e voltou-se com ar de satisfação.
Mas a este vislumbre de esperança sucedeu um movimento de impaciência. Era frei Januário quem entrara.
O padre vinha com uns olhos de embasbacado, virando e revirando uma carta que trazia na mão.
- Que é? O que quer, frei Januário? - perguntou D. Luís com impaciência não disfarçada. Onde está Gabriela? Tenha a bondade de ir pedir-lhe o favor de vir falar-me.
- A Sr.ª baronesa?... Aí tem V. Ex.ª as notícias que posso dar-lhe a respeito dela.