XXV Depois de separar-se de Maurício, a baronesa guiou a égua na direcção da Herdade. Decidida a ver e a estudar Berta, para saber até que ponto estava o coração da rapariga empenhado nos conflitos domésticos dos senhores da Casa Mourisca, Gabriela adoptou a resolução de procurá-la sem simular pretexto algum. Os costumes singelos do campo autorizavam esta supressão de cerimónias: demais, como parenta que era de Jorge e de Maurício, tinha a certeza de ser bem recebida lá.
Desviando-se da estrada para seguir por um atalho que ladeava a colina, avistou uma pequena capela rústica, com a sua galilé e o seu pequeno bosque de sovereiros a rodeá-la, e tão pitorescamente situada em uma das eminências próximas, que não pôde resistir ao desejo de subir até ali.
A capelinha, erigida sob a invocação de Santa Luzia, um dos nomes de mais devoção entre os do florilégio cristão, pousava sobre a colina em uma dessas situações que o povo, com seus instintos poéticos, costuma escolher para assentar esses modestos monumentos da sua fé e piedade.
O vale feracíssimo, por onde se estendiam os vergéis, as searas, as quintas e os lameiros de duas ou três freguesias, descobria-se todo dali. A vista seguia nos seus sucessivos meandros o pequeno rio que se estirava em chão de areia, por entre moitas de azevinhos, de laurentins e de salgueiros, cujos ramos aqui e além se abraçavam de margem para margem. O campanário da igreja paroquial, a ponte de dois arcos, os açudes, as azenhas, as presas onde cantavam, lavando, as raparigas do campo, os estendais onde a roupa de linho branqueava sob os raios de Sol, as noras toldadas de parreiras completavam a feição campestre da paisagem.
Prendendo a égua ao ramo vigoroso de um destes carvalhos decepados a que na província chamam tocas, Gabriela caminhou a pé para a galilé da ermida.