XVII Amanheceu alvoraçada e ruidosa a Casa Mourisca no dia destinado para o jantar em homenagem a Gabriela.
Naquele tranquilo e silencioso edifício, que parecia constantemente absorvido nas recordações de seus tempos de glória, notava-se um movimento excepcional.
O velho fidalgo não quisera faltar às tradições de hospitalidade que a família lhe legara.
Ordenou que, embora à custa de qualquer sacrifício, se celebrasse a chegada da sobrinha, segundo o velho estilo, convidando-se para jantar os representantes da mais preclara nobreza dos arredores.
Ainda que a tristeza e a misantropia de que era vítima o trouxessem, havia muito tempo, arredado dos parentes e dos amigos de outras épocas, o senhor da Casa Mourisca preferiu sujeitar-se à impertinência de lhes abrir mais uma vez as suas salas a deixar de cumprir uma prática que lhe impunham os brios de fidalgo criado nos hábitos de grandeza e liberalidade de um solar de província.
Jorge tentara ainda opor algumas sensatas reflexões a esta dispendiosa exibição de uma opulência mentida; mas encontrou o pai inflexível.
Frei Januário, que antevia a perspectiva de um daqueles regalados jantares, que se tinham ido com os forais, com as lutuosas, com os conventos, com as milícias, e com muitas outras coisas igualmente despertadoras das suas clericais saudades, frei Januário, dizemos, sentia em si uns júbilos de criança, que nem podia nem procurava disfarçar.
Eloquente como nunca, corroborou a opinião do fidalgo, fazendo-lhe bem sentir o deslustro que sofreria o brasão da casa se não se observassem essa práticas senhoris dos tempos passados, e dando como fáceis de aplanar todas as dificuldades que, à primeira vista, apresentava o projecto.
A Jorge, que lhe suscitara algumas objecções, o egresso somente respondia:
- Tenha paciência, Sr.