XVIII Ficaram apenas na sala Jorge, Maurício e a baronesa.
A indignação de D. Luís parecia haver desvanecido a energia de Jorge; a consciência do pobre rapaz, como que vacilando ao embate das violentas paixões paternas, quase lhe censurara a precipitação do passo que dera.
Igualmente abatido, Maurício sentia remorsos ainda mais vivos. Não podendo já duvidar da inocência do irmão, como perdoaria a si próprio as suspeitas e insultos com que o ferira?
Do vão da janela a baronesa observava-os imóvel e silenciosa.
Maurício ergueu enfim a cabeça, e tendo nos olhos ainda vestígios de lágrimas; hesitou alguns instantes; depois, por um desses movimentos prontos e irresistíveis, a que a violência dos afectos o provocava, caminhou agitado para Jorge.
- Jorge, - disse ele, íntima e sinceramente comovido - se ainda se não esgotou a generosidade da tua nobre alma, não me retires a afeição que por tanto tempo te mereci.
Jorge apertou-lhe a mão com afecto.
- Nunca ta retirei, Maurício. Podes crê-lo. Afligem-me alguns dos teus desvarios, principalmente porque sei que eles estão em contradição com os nobres sentimentos da tua alma. Mas para te perder a afeição não é isso motivo. Para mim és, nesses momentos, como uma criança que se vê a dormir à beira de um precipício. Inspiras-me, como ela, apenas sustos, e não cólera nem aversão.
E os dois rapazes abraçaram-se com efusão.
- Vamos, - disse a baronesa, intervindo - a situação precisa de que se pense nela seriamente. As pazes estão feitas, em boa hora; pensemos agora como gente de juízo.
- Antes de mais nada, Jorge, o que há de verdade em tudo isto?
- O que eu disse.
- Vê bem; fala-me com franqueza. Eu não acreditei no que de ti se espalhou. Concederia que Jorge pudesse praticar uma loucura, mas uma acção indigna, um abuso de confiança, sabia que não.