XIII Maurício mandou para casa o cavalo, no propósito de seguir os primos a pé. Estes enviaram também para o Cruzeiro os cães, as espingardas e os mais petrechos de caça.
Os dois manos riram por muito tempo da prosápia do regedor e não se deram por satisfeitos senão depois de terem conseguido fazer também rir Maurício, que, ao princípio, tentou admoestá-los.
- Deixa o assunto - disse afinal o padre.- Que destino levas?
- Nenhum.
- Nesse caso vem por nossa casa, que não te hás-de arrepender.
- Que há lá?
- Vem e saberás.
- O José recebeu ontem do Douro uns cascos prometedores - explicou o doutor.
- Adeus, adeus; aí estás tu a desfazer a surpresa. Deixa-o vir.
- Vou, - respondeu Maurício- mas havemos de seguir o caminho que eu disser.
- Mas onde diabo queres tu ir?
- Temos empreitada?
- Também vos prometo que se não arrependerão - insistiu Maurício.
- Ó rapaz, se são olhos pretos e cabelos fartos, dize, e vamos lá ver isso - alvitrou o padre.
- Olhos, cabelos, dentes, gesto, riso, figura, tudo uma perfeição - ampliou Maurício.
- Onde desenterraste essa maravilha?
- Chegou aqui há poucos dias.
- Não ponhas mais na carta.
- Já sei, - interveio o doutor - falaram-me nela. É a filha do Tomé da Herdade.
- Exactamente.
- E então ela sempre é essas coisas?
- Só te digo que eu ando cada vez mais doido por a rapariga. Isto cá dentro está em iminente perigo de explosão. Que admira, se nunca até hoje vi uma beleza assim?
- Estás bem bom. Ó rapaz, o mais que posso fazer é casar-vos. Conjungo vos - disse o padre, cantarolando.
- Em uma palavra, para vocês imaginarem o estado disto, basta que vos diga que me custou a conter a indignação quando ouvi há pouco a Ana do Vedor dizer-me que a Berta era um bom casamento para o filho.