XXIV No dia seguinte pela manhã, D. Luís mandou pedir à baronesa autorização para fazer-lhe uma visita, reclamada por motivos urgentes.
Gabriela respondeu que o ficava aguardando com impaciência.
E não foi por mero cumprimento que o disse; os negócios daquela família achavam-se em um estado tal, que era de esperar de momento para momento uma crise importante, e o menor sucesso podia provocá-la.
Gabriela sabia-o e aguardava-a.
Meia hora depois entrou D. Luís sombrio e grave no gabinete da sobrinha.
Esta acolheu-o com a maior deferência, procurando ler-lhe no semblante o pensamento que o trouxera ali, mas empregando no exame toda a dissimulação.
- Para que se incomodou, tio Luís? Se quisesse ter a bondade de esperar, eu iria receber as suas ordens.
- Ergui-me cedo. E ergui-me sem ter dormido. Por isso fui tão matinal.
- Meu Deus! achou-se então incomodado?
- De espírito, muito; muito.
E D. Luís passou a mão pela fronte, suspirando.
- E posso proporcionar-lhe algum alívio, meu tio? - perguntou Gabriela, conduzindo-o para um sofá, onde se sentou ao lado dele, olhando-o com ar de interrogação e de interesse.
- Gabriela, a sorte de minha família está jogada. É uma família perdida - rompeu veementemente o fidalgo.
- Não diga isso, tio Luís.
- Digo-o e sinto-o - continuou ele mais exaltado.
- Quando uma casa como a nossa, que não pode já conservar o antigo esplendor e o estado que em melhores tempos sustentou, não sabe de mais a mais manter o prestígio que teve por as práticas tradicionais de nobreza, por acções de fidalguia, enfim por estes actos de superioridade que fazem dobrar a cabeça aos mais insolentes e intimidar a vista dos invejosos, quando uma casa chegue a um tal estado de decadência, nenhum apoio sólido tem a sustentá-la e em pouco tempo cairá em ruína total.