XXII Jorge apenas a Gabriela deu parte do seu projecto de jornada. No dia seguinte partiu efectivamente para o Porto na companhia de Tomé da Póvoa.
D. Luís ainda firme no propósito de não querer ver o filho, nem ouvir falar dele, nada soube desta excursão.
Maurício estranhou a ausência do irmão; mas, desde que a baronesa lha explicou, dizendo-lhe a verdade, não pensou mais em tal.
O padre, quando soube que Jorge tinha ido ao Porto, cidade que, no conceito do egresso, era um foco de corrupção, e onde mais risco havia para a juventude de infeccionar-se com a peste da maçonaria e outros males correlativos, abanou três vezes a cabeça, em sinal de mau prognóstico; mas não ousou falar das suas apreensões ao fidalgo, porque andava desconfiado, havia algum tempo, com os humores em que o via.
De facto D. Luís, depois de algumas das severas palavras que ouvira a Tomé da Póvoa, não podia vencer um tal ou qual ressentimento contra o padre, cuja imprevidente gerência tinha talvez concorrido para o estado precário da sua casa e as humilhações que sofria.
Apenas atenuava este ressentimento a ideia fatalista de que a decadência das casas nobres era inevitável, e que baldado era tentar reagir.
Para ele o padre não podia ser mais que o instrumento cego da sua desgraça irrevogavelmente decretada.
Toda a energia moral de D. Luís exercia-se pois em encarar com rosto firme a adversidade, e cair sem perder na queda a fidalga compostura do porte.
Destas sucessivas impressões que recebera nos últimos tempos, resultava para o ânimo, já de índole irritável de D. Luís, uma impaciência, uma quase permanente exaltação nervosa, que aumentava à medida que se lhe depauperavam as forças e o vigor corpóreo. Quem melhor sabia agora lidar com ele era a baronesa.