VI Ao chegar à porta dos aposentos do pai experimentou Jorge uma primeira hesitação.
D. Luís tratava sempre os filhos de uma maneira tão austera, abria-se-lhes tão pouco em confidências, mostrava tão má vontade em ter com eles longas e sérias conversações, que Jorge precisava de exercer um grande esforço sobre si mesmo para dar aquele passo tão fora dos seus hábitos.
Pela primeira vez os filhos procuravam assim o pai no próprio quarto dele; a estranheza do facto seria pois já uma razão bastante para os perturbar, ainda quando não concorresse para o mesmo efeito a natureza do assunto da conferência, que não podia ser mais solene.
A resolução de Jorge era porém muito forte, e o entusiasmo de Maurício muito inconsiderado para que se deixassem dominar por aquela quase instintiva timidez.
Jorge bateu à porta com íntimo sobressalto.
Respondeu imediatamente a voz de D. Luís, mandando entrar quem batia.
Os dois irmãos impeliram diante de si a porta, e, afastando o reposteiro, entraram.
Os raios do luar tinham já principiado a penetrar na sala desenhando no pavimento as projecções das janelas ogivais, que a pouco e pouco cresciam para o interior.
Do lado da porta eram porém ainda espessas as sombras, e D. Luís não podia conhecer quem entrava.
A sala era extensa, e por isso alguns momentos decorreram, longos para a impaciência do fidalgo, antes que os dois rapazes chegassem ao lugar onde ele os esperava, escutando com estranheza aqueles passos, sem poder conjecturar de quem fossem.
Afinal, próximos da cadeira do pai, pararam e guardaram por instantes silêncio.
A fronte descoberta ficava-lhes alumiada pelo luar, e recebia daquela misteriosa luz uma singular expressão de gravidade.
D. Luís, reconhecendo os filhos, olhou fixamente para eles, e perguntou-lhes admirado:
- O que é que pretendem?
Jorge foi o que respondeu:
- Se V.