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Capítulo 4: IV

Página 42
IV

Em uma das espaçosas salas da Casa Mourisca alumiada por três rasgadas janelas ogivais e mobilada ainda com certa opulência, vestígios do esplendor passado, esperavam a hora de jantar o velho fidalgo e o seu capelão-procurador frei Januário dos Anjos.

Não foi rigoroso o emprego no plural do verbo da última oração.

Frei Januário era quem esperava, porque essa era também a principal ocupação dos seus dias. Os gozos do paladar mal lhe compensavam as amarguras destas longas expectações. Eram elas talvez que não o deixavam medrar na proporção dos alimentos consumidos, porque frei Januário era magro. O mistério fisiológico desta magreza ainda não era para se devassar de pronto.

D. Luís lia as folhas absolutistas, que lhe mandavam da capital e do Porto, e dava assim em alimento ao seu ódio contra as instituições liberais um dos frutos mais saborosos delas - a liberdade de imprensa; - fruto em que os seus correligionários mordem com demasiada complacência, apesar de ser para eles fruto proibido.

De quando em quando, D. Luís interrompia a leitura com uma frase de aprovação ao artigo que lia ou de censura a qualquer medida promovida pelo governo, que nunca tinha razão.

Frei Januário secundava, com toda a força do seu obscuro credo político, as reflexões de S. Ex.a, e requintava na intensidade dos anátemas com que eram fulminados os homens da época.

Mas, solta a frase que o caso pedia, e as competentes exclamações, voltava o padre a consultar o relógio, a abrir a boca, a suspirar; dava dois ou três passeios na sala e terminava por ir inspeccionar a cozinha. Os intervalos das refeições eram para ele séculos!

- Hum! - disse D. Luís naquela manhã, poisando a folha, como enjoado com o que lera. - Lá foi concedido um subsídio para a construção do lanço de estrada de Vale Escuro!

- Fartos sejam eles de estradas! - acudiu logo frei Januário.

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Capa do livro Os Fidalgos da Casa Mourisca
Páginas: 519
Página atual: 42

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 18
III 25
IV 42
V 54
VI 62
VII 72
VIII 86
IX 102
X 114
XI 127
XII 137
XIII 145
XIV 155
XV 168
XVI 197
XVII 214
XVIII 233
XIX 247
XX 255
XXI 286
XXII 307
XXIII 317
XXIV 332
XXV 348
XXVI 358
XXVII 374
XXVIII 391
XXIX 401
XXX 414
XXXI 426
XXXII 440
XXXIII 450
XXXIV 462
XXXV 477
XXXVI 484
XXXVII 499
Conclusão 515