XXXVI O estado do doente no dia seguinte não era mais animador. O abatimento, em que tão de súbito caíra, mostrava jeitos de prolongar-se e porventura de terminar por uma solução funesta.
O padre mandou à pressa aviso a Jorge para que viesse aos Bacelos.
A carta de Frei Januário chegou às mãos de Jorge juntamente com outras de mais felizes novas. Umas eram do Porto, noticiando-lhe a decisão favorável da importante demanda que ele sustentava; outras da baronesa e de Maurício, participando-lhe o seu casamento e prometendo uma próxima visita à aldeia. Todas estas notícias de tão diversa índole impressionaram extraordinariamente Jorge.
Por esse lado iluminava-se-lhe o horizonte do caminho, que seguia com a constância e a tenacidade de um ânimo varonil; por outro assombrava-o o estado perigoso do seu velho pai, a quem ele desejaria dar ainda a consolação de ver como que erguida das ruínas a casa de seus antepassados.
As novas, quase fúnebres, que lhe vinham dos Bacelos enlutavam-lhe as alegrias nupciais das cartas do irmão e de Gabriela.
Debaixo da influência destas impressões opostas, Jorge, depois de escrever um pequeno bilhete a Tomé, em resposta a outro que dele recebeu, comunicando-lhe também o resultado da demanda, montou a cavalo e partiu a toda a pressa para os Bacelos.
O procurador recebeu-o com ar consternado e, abanando sinistramente a cabeça, conduziu-o ao quarto de D. Luís.
Jorge sentia comprimir-se-lhe dolorosamente o coração ao aproximar se do leito do pai.
- Ele já nem fala - dissera-lhe a meia voz o padre, que de facto ainda não conseguira obter uma só palavra do fidalgo.
Jorge afastou quase tremendo as cortinas do leito.
D. Luís, que jazia com os olhos fechados naquela imobilidade quase mórbida em que desde a partida de Berta caíra, não deu sinal de ter percebido a chegada do filho.