Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 34: XXXIV Pág. 462 / 519

XXXIV

Desde o dia em que Berta falara no seu casamento ao fidalgo da Casa Mourisca nunca mais correram as horas nos Bacelos para o velho e para a rapariga tão alegres como até aí.

Nem uma palavra se trocou mais entre eles sobre o assunto, mas fácil era de perceber que ele ainda dominava o pensamento de ambos.

Tanto os sorrisos de Berta como aqueles com que D. Luís lhes correspondia empanava-os uma nuvem de tristeza.

O fidalgo a cada momento pensava na separação iminente, na necessidade de dar à afilhada o consentimento prometido, e cada vez menos coragem sentia para fazê-lo.

Berta recebia como que a projecção da tristeza do velho, demais, a sua própria crescia à medida que se aproximava o momento em que tinha de realizar-se o sacrifício do seu coração, sacrifício cuja grandeza de dia para dia mais avultava no seu espírito.

Actuou esta influência no estado do enfermo, que ia perdendo o alento adquirido sob a benéfica vigilância da rapariga.

Por isso no dia em que se passaram as cenas narradas no último capítulo e nas quais a intrépida Ana do Vedor desempenhou tão importante papel, D. Luís achava-se em um estado de abatimento pouco animador.

Não saíra esse dia do quarto, como era seu costume quando ia sentar-se com Berta à sombra das árvores. Queixou-se de fraqueza e de frio, e ficou na poltrona ao lado da janela a espreitar por dentro das vidraças para as avenidas da quinta.

Berta havia por instantes deixado o padrinho para temperar-lhe um remédio; e o doente, ficando só, caíra em uma profunda meditação, seguindo maquinalmente com a vista os movimentos de uma avezita que saltava nos ramos de uma árvore distante.

De repente chamou-lhe a atenção o rumor dos passos de alguém que se aproximava do corredor e que parou à porta do quarto, como se hesitasse ao entrar.





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