XXXIV Desde o dia em que Berta falara no seu casamento ao fidalgo da Casa Mourisca nunca mais correram as horas nos Bacelos para o velho e para a rapariga tão alegres como até aí.
Nem uma palavra se trocou mais entre eles sobre o assunto, mas fácil era de perceber que ele ainda dominava o pensamento de ambos.
Tanto os sorrisos de Berta como aqueles com que D. Luís lhes correspondia empanava-os uma nuvem de tristeza.
O fidalgo a cada momento pensava na separação iminente, na necessidade de dar à afilhada o consentimento prometido, e cada vez menos coragem sentia para fazê-lo.
Berta recebia como que a projecção da tristeza do velho, demais, a sua própria crescia à medida que se aproximava o momento em que tinha de realizar-se o sacrifício do seu coração, sacrifício cuja grandeza de dia para dia mais avultava no seu espírito.
Actuou esta influência no estado do enfermo, que ia perdendo o alento adquirido sob a benéfica vigilância da rapariga.
Por isso no dia em que se passaram as cenas narradas no último capítulo e nas quais a intrépida Ana do Vedor desempenhou tão importante papel, D. Luís achava-se em um estado de abatimento pouco animador.
Não saíra esse dia do quarto, como era seu costume quando ia sentar-se com Berta à sombra das árvores. Queixou-se de fraqueza e de frio, e ficou na poltrona ao lado da janela a espreitar por dentro das vidraças para as avenidas da quinta.
Berta havia por instantes deixado o padrinho para temperar-lhe um remédio; e o doente, ficando só, caíra em uma profunda meditação, seguindo maquinalmente com a vista os movimentos de uma avezita que saltava nos ramos de uma árvore distante.
De repente chamou-lhe a atenção o rumor dos passos de alguém que se aproximava do corredor e que parou à porta do quarto, como se hesitasse ao entrar.