Conclusão Não se fez esperar muito o casamento ajustado à cabeceira do leito do fidalgo da Casa Mourisca.
Depois de vencida a importante demanda, que havia tanto tempo pesava sobre a sua propriedade, Jorge achou-se mais desembaraçado na empresa a que dedicara a juventude.
Alienando algumas fazendas distantes, que serviam apenas de estorvo à administração das outras, sem compensarem os sacrifícios que exigiam, acabando de desonerar de opressivas hipotecas as que ainda definhavam sob elas, e entrando em uma via metódica e segura de melhoramentos, habilitou-se em breve tempo a contrair um empréstimo valioso no crédito predial, amortizável em poucos anos; e com o capital obtido em tão favoráveis condições e prudentemente administrado tinha quase certa para não longínquo futuro a completa realização do seu constante e generoso pensamento.
O enegrecido e triste solar da Casa Mourisca remoçou no dia em que o moço proprietário dele pôde remir a sua última dívida a particulares. Esta foi a de Tomé da Póvoa.
O povo da aldeia viu de novo abrirem-se de par em par as janelas da velha Casa Mourisca, limparem-se das ervas parasitas as longas avenidas da quinta, erguerem-se do chão as estátuas derrubadas, jorrarem como em outros tempos as águas dos encanamentos desobstruídos, coroarem-se de ameias as torres mutiladas, dourarem-se as colunas de talha da capela do palácio, e, ao ver isto, o povo acreditou que iam voltar dias felizes para aquela família, sobre a qual pesara o jugo do infortúnio.
Espalhou-se voz e fama do muito que fizera Jorge para conseguir esta restauração.
Admirava-se, aplaudia-se a energia e a sensatez do moço, que emendara o desvario dos seus antecessores, comentavam-se os actos da sua vida de rapaz,