XXVIII Tinham decorrido alguns dias desde que a baronesa principiara a receber de Maurício sinais inequívocos de um galanteio, que ela com as mais louváveis intenções favorecia.
Durante todo este tempo o leviano rapaz consagrara à sua nova paixão todos os instantes, suspeitava-lhe todos os pensamentos. Não perdia a menor ocasião de se encontrar com a prima e de renovar as cenas, que a agudeza de génio e a vivacidade de espírito de Gabriela sabiam rodear de atractivos inteiramente novos para a inexperiência do apaixonado moço.
Em época alguma tinham os criados conhecido Maurício tão caseiro como então: cessaram as suas correrias pelos arredores, e os cavalos só eram por ele tirados da ociosidade quando Gabriela se lembrava de passear pelos campos. Maurício era então certo a acompanhá-la.
Este estado de coisas inquietava porém a baronesa.
Caracteres como o de Maurício, por muito os ver na roda da sociedade em que vivia, já para ela não tinham segredos não estudados. Não confiava tanto no prestígio que actualmente exercia no ânimo de seu jovem e volúvel primo, que não temesse a influência que poderia exercer sobre ele a monotonia das impressões da vida que ele passava nos Bacelos.
A baronesa tinha, é verdade, imensos recursos para variá-las. Estava ainda longe de os dar por esgotados. Quando Maurício julgava ter conhecido a verdadeira feição moral de Gabriela, ela desiludia-o impressionando-o sob uma feição nova.
Umas vezes falava-lhe com uma seriedade maternal; outras parecia abrir-se-lhe na mais fraternal expansão; mostrava-se-lhe mais tarde reservada e discreta; depois satírica e espirituosa, e sempre cheia de encantos, que com perfeitíssimo conhecimento e uso da arte sabia fazer realçar.
Apesar disso, porém, a baronesa antevia perigos na prolongação daquela vida monótona, e sentia a necessidade de dar um golpe decisivo.