X Berta acordou firme no propósito que formara na véspera de aceitar com coragem de mulher as suas novas condições de vida e de entregar-se de alma e vontade ao cumprimento dos deveres domésticos, sofreando para isso a indócil imaginação de rapariga.
Maurício, pelo contrário, estreou os seus pensamentos daquele dia avivando tudo quanto pudesse fazer-lhe lembrar de Berta e formando a resolução de vê-la e de falar-lhe.
Jorge levantou-se cedo, um tanto fatigado pelo inquieto sono daquela noite, e procurou distrair-se estudando uma questão agronómica em que meditava havia muitos dias.
Veremos o que as diversas disposições de ânimo destes três personagens deram de si no decurso do dia.
O aspecto risonho da manhã dissipou as nuvens que de noite se haviam acumulado sobre o espírito de Berta. Já lhe parecia, àquela suave e vivificadora luz, mais risonha a sua sorte, e não podia perdoar a si mesma a vaga tristeza que sentira. Auxiliando a mãe nas ocupações domésticas, encontrava nisso uma distracção poderosa e quase um íntimo prazer. As carícias dos irmãos comoviam-na, e foi já com desassombrada alegria que, tomando um deles ao colo e dando a mão ao outro, atravessou os campos cultivados, os vinhedos e os lameiros da Herdade, e foi sentar-se no limite dela, junto a uma fonte rústica meia oculta entre a sebe de roseiras e estevas que separava do caminho aquela parte do casal. E como lhe causava prazer sentir-se humedecida pelo orvalho, que ainda poisava nos trevos e nas fumarias do chão, e caía em gotas límpidas dos cumes das árvores sacudidas na passagem!
Os irmãos corriam a trazer-lhe as rosas e as mais flores campestres que iam colher, saltando por entre as searas e nos caminhos de passagem, e ela entretinha-se a ajuntá-las em pequenos ramos, com que os presenteava depois.