XXXI Chegaram cartas da baronesa e de Maurício, datadas de Lisboa. As notícias que davam eram satisfatórias. Maurício fora hospedado em casa de um primo remoto de D. Luís e por ele introduzido nos primeiros círculos da cidade, onde recebeu um lisonjeiro acolhimento.
Maurício achava-se naquele mundo, novo para si, como se nele tivesse sido educado. Sentia-se bem ali, agradavam-lhe aqueles hábitos de elegância e de distinção, que não conhecera no canto de sua província, mas cuja necessidade vagamente experimentava havia muito tempo. Era para aquele viver que os seus instintos o inclinavam.
Quando se viu ali respirou com o desafogo de quem sai de um ambiente que o asfixiava. Não necessitou de longo tirocínio para conhecer os usos daquela sociedade e adoptar-lhe os costumes. Em poucos dias não restavam nele vestígios sequer do seu provincianismo. Uma forte vocação substitui um lento noviciado. Os homens acharam-no espirituoso; as mulheres, amável; e para com todos soube ser tão insinuante, que os influentes políticos, a quem a baronesa o recomendara, tomaram por ele o mais vivo e prometedor interesse.
Escusado é dizer que Maurício não foi muito escrupuloso na observância dos artigos de fé políticos com que D. Luís doutrinara os filhos. Para génios como o de Maurício, um dos maiores achaques que pode ter uma ideia é o estar fora da moda.
Jorge sentia que não lhe era possível abraçar a crença do pai, porque a razão a condenava; e estas convicções para toda a parte o acompanhariam, porque procediam de um juízo claro e de uma aturada reflexão.
Maurício, apesar de nunca ter aderido manifestamente ao credo paterno, só agora parecia havê-lo deveras renegado, porque o desgostavam os ares de cediço e desusado com que ele lhe aparecia à esplêndida claridade dos salões da moda.