Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 168 / 519

XV

Em uma das seguintes madrugadas foi Jorge sobressaltadamente acordado pelo velho jardineiro, que, depois das últimas reformas, estava empregado no serviço interno da casa. O homem tinha uns ares de espantado, como se viera a comunicar a notícia de um incêndio.

- Que temos? - perguntou Jorge, sentando-se inquieto no leito.

- É que não tarda aí a Sr.ª baronesa. Já estão lá em baixo umas bagagens e uns criados, e... não está nada preparado.

- Cuidei que era outra coisa. E o que querias tu que estivesse preparado?

- Ora pois então?! Sempre é uma pessoa... Lá o padre já deu ordem para se ir pedir a baixela aos...

- Não se pede coisa alguma. Aí principia o frei Januário a fazer das suas. Diz-lhe que deixe tudo ao meu cuidado. Que não se estafe, nem aflija, que não é necessário.

- Mas... olhe lá, Sr. Jorge! O fidalgo mesmo não há-de gostar...

- Faz o que eu te digo. Isso em ti, a falar a verdade, até me admira. Não parece franqueza de soldado. Para ocultar aos olhos de minha prima a nossa pobreza, que não é vergonha nenhuma, querias que fosse descobrir às famílias que têm baixelas a nossa vaidade, que essa, sim, seria uma vergonha? Não estou resolvido a fazê-lo.

O velho meneou a cabeça por algum tempo, e acabou por dizer:

- Parece-me que tem razão, Sr. Jorge, como sempre. Ai, se nesta casa todos tivessem tido o seu juízo, ela não chegaria ao estado a que chegou. Lembro-me agora de quando o imperador...

- Deixa o caso para outra ocasião. Vai arranjar, como puderes, essa gente e essas coisas todas, enquanto eu me visto e preparo para ir receber a prima...

O velho criado obedeceu com presteza militar.

Meia hora depois ouviam-se tilintar as campainhas dos machos da liteira em que vinha a baronesa.





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