Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 18: XVIII Pág. 236 / 519

- Mas... Por quem é, meu tio... Grande prazer me dará a sua visita... porém em outras circunstâncias e por outros motivos. Não tome resolução alguma enquanto assim está dominado pela paixão. Veja o que vai fazer! O que se dirá! O que se falará por toda a parte!

- Já de sobra têm em que falar. A vergonha não é maior - tornou o velho mais agitado.

- Pois sim - acudiu o padre - , mas reunir a vergonha ao incómodo... a falar a verdade... é... é...

- A vergonha... a vergonha... Mas tem a certeza, tio, de que julga bem e despreocupado de paixões os actos de seu filho? Quem lhe diz que outros não chamarão virtude àquilo a que chama baixeza?

A cólera relampagueou de novo nos olhos do velho.

- Gabriela, por quem é, desista de contrariar-me. Asseguro-lhe que me não demove da resolução em que estou e somente me aflige. Se não quer conceder-me o abrigo de seus tectos, irei bater a outra porta.

Gabriela não insistiu.

- A minha casa é sua sempre, meu querido tio. Vou dar as ordens para partirmos.

- Não esperem por mim - recomendou ainda o fidalgo. - Eu irei com frei Januário mais tarde, porque tenho que fazer antes. Sinto o incómodo que isto lhe vai causar, Gabriela. Mas os criados ficarão na estalagem da Encruzilhada.

- Todos cabem; visto que também os quer levar, escusam de ficar a meio do caminho. Então fecha-se a Casa Mourisca, ao que estou vendo? Muito bem. A casa de meu pai é bastante espaçosa, e com os arranjos que eu mandei fazer-lhe ultimamente deve bem servir para nós todos. Agora um pedido.

- Qual é?

- Jorge está consternado pelas suas ásperas palavras ao jantar. Não há-de reconciliar-se com ele?

- Gabriela, se é amiga de Jorge, não procure trazê-lo à minha presença, e se quer que isto que sinto cá dentro contra meu filho não cresça ou degenere em paixão pior, não pronuncie diante de mim por ora o nome dele.





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