Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 25: XXV Pág. 349 / 519

Ao chegar ali, descobriu no muro sobranceiro ao lado menos acessível da colina uma rapariga sentada costurando.

A baronesa adivinhou logo que era Berta e aplaudiu-se do palpite que a fizera desviar do caminho para subir ali.

Berta saudou-a afavelmente, como quem também a reconhecera.

A baronesa dirigiu-se-lhe sem rodeios.

- Não é verdade que é a menina Berta da Póvoa que tenho a felicidade de encontrar aqui?

- Sou, sim, senhora baronesa... porque me parece que estou falando com...

- Justamente. Achamo-nos pois conhecidas. Tanto melhor, para não perdermos tempo com apresentações. Agora permite-me que a abrace, como a uma pessoa a quem estimo?

- Oh! minha senhora!

E as duas mulheres abraçaram-se, saudando-se afectuosamente, como se uma súbita simpatia as aproximasse.

- Sabe - prosseguiu a baronesa, sentando-se ao lado de Berta - que ia procurá-la?

- A mim?!

- É verdade. Veja que feliz acaso o que me fez subir a esta capela, para gozar do panorama que se descobre daqui.

- É um dos passeios mais bonitos destes sítios.

- Pelo que vejo costuma fazer daqui a sua casa de lavor?

- Ai, não; raras vezes; hoje vim para esperar meu pai, que chega do Porto. Daqui avista-se quase meia légua de estrada.Vê?

- Ai, volta hoje o pai? Visto isso também o meu primo Jorge.

- Também... julgo que também.

Berta não foi superior e uma leve turbação, ao ouvir o nome de Jorge e ao responder à baronesa. Quem tem no coração um segredo que de todos quer recatar, trai-o muitas vezes, à força de disfarçá-lo. Em cada olhar suspeita uma espionagem, em cada palavra uma alusão, e, se a conversa se aproxima do assunto, segue-a trémulo, como se segue o caminho que se abeira de um precipício.

A baronesa, que tinha ainda os olhos fitos em Berta com a curiosidade própria de uma mulher ao observar outra que sabe causar impressão nos ânimos masculinos, notou aquele indício de confusão, e não o desprezou.





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