Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 36: XXXVI Pág. 496 / 519

Interrompeu-o D. Luís.

Dera-se com o fidalgo um fenómeno não calculado pela experiência do padre, ainda que natural ao espírito humano.

Sentindo-se apoiado na defesa das suas ideias por um aliado antipático - porque o era ao fidalgo, desde certo tempo, o seu ex-procurador - teve logo um desejo veemente de recusar o auxílio e quase o de esposar a causa aposta, só para o castigar da impertinência.

Além disso frei Januário levou a defesa mais longe do que devia. A maneira por que falou de Berta e da dependência em que estava o fidalgo da opinião da sua parentela irritaram o orgulhoso

D. Luís, que por isso tudo com extrema vivacidade o interrompeu dizendo:

- Cale-se, frei Januário, cale-se! Que está para aí a dizer? Cuida que eu, querendo fazer a minha vontade, me dou ao trabalho de consultar os de Ribeira-Formosa, os do Choupelo ou os do Cruzeiro, ou de qualquer dessa parentela que tenho por essa província adiante? Era o que me faltava! Do que convém ou não convém à dignidade do meu nome, sou eu o juiz, e não admito ingerências alheias. Actos que deslustram e envergonham têm-nos eles feito que farte, e eu nunca lhes fui pedir satisfações por isso.

- Eu queria dizer... - acudiu o padre, intimidado pela irritação em que via o fidalgo.

Este interrompeu-o outra vez:

- Ora não diga nada, que é melhor. Com que olhos veriam as damas este casamento! É boa! Com os mesmos olhos com que têm visto muita miséria e muita vergonha que vai por casa dos seus. Os olhos deviam elas empregá-los em Berta, mas era para aprender dela o que é dignidade, nobreza de sentimentos e verdadeira educação. Como está aí a dizer o frei Januário que Berta há-de mostrar afinal a origem donde vem? Berta há-de mostrar que é filha de um homem honrado e de uma mulher virtuosa.





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