Ilíada - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 47 / 178

Heitor, de semblante grave, respondeu-lhe:

— Querida esposa, tudo isso me preocupa também. Mas o que não posso admitir, de modo nenhum, é que troianos e troianas me vejam fugir ao cumprimento do dever e me venham a chamar de cobarde. Sei bem que um dia esta sagrada cidade de Tróia há-de perecer juntamente com Príamo e o seu povo! Mas não é por causa de Tróia, nem dos troianos, nem mesmo por meu pai e minha mãe que tanto me aflijo e sim por tua causa, minha querida esposa! Receio que um dia te vejas cativa de um desses gregos vestidos de bronze, que te obrigue a carregar-lhe água numa terra distante. E então, alguém dirá: Aquela é a mulher de Heitor, o mais bravo guerreiro de Tróia.» Que eu esteja morto nesse dia para não ver a tua dor, nem ouvir as tuas queixas!

E, enquanto falava, Heitor estendeu os braços para abraçar o filho. Mas o menino, amedrontado pelo brilho das armas e pelo aspecto do pai, revestido de bronze da cabeça aos pés, começou a chorar, refugiando-se no colo da ama. O extremoso pai sorriu do temor do filho e, para não o assustar, tirou o capacete e, beijando o filhinho amado, assim falou:

— Júpiter Olímpico e vós, deuses eternos, fazei com que meu filho venha a ser ilustre entre os troianos e que um dia possam dizer dele: «É ainda maior do que o pai!» E que venha a ser ele a alegria da mãe!

Entregou o menino a Andrómaca, que o recebeu sorrindo mas com lágrimas nos olhos. O coração de Heitor comoveu-se com as lágrimas da esposa e, pegando-lhe na mão, acariciou-a dizendo:

— Querida, não te aflijas por minha causa. Nenhum homem será capaz de matar-me se não for esse o meu destino. Mas ninguém pode escapar à sua sorte, seja bravo ou cobarde. Volta para casa, para os teus trabalhos domésticos e o governo do teu lar, e deixa a guerra para os homens.





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