Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 19: XIX Pág. 253 / 519

O padre não tinha coragem para tomar conta da gerência da casa sob a inspecção de Jorge, a quem tomara um medo excessivo; tentava porém colorir airosamente a proposta que ali viera fazer.

A baronesa interpelou-o muito terminantemente.

- A sua posição nesta casa, Sr. frei Januário, e as exigências morais do seu carácter e da sua missão traçam-lhe distintamente o caminho que deve seguir. Ou entende na sua consciência que pode fazer mais e melhor do que Jorge, e nesse caso deve obedecer ao tio Luís, ou tem a convicção contrária, e só então é admissível a sua proposta, mas depois de confessar com franqueza e lealdade o motivo dela.

O padre torceu-se, balbuciando:

- Eu não digo... isto é... quero dizer... no estado em que as coisas estão... no pé em que as puseram... Sim... cada qual tem lá o seu sistema... e eu... sim, V. Ex.ª bem sabe...

- Deixemo-nos disso. Claro, claro. Notou alguns defeitos na administração do primo?

- Defeitos... defeitos... não digo defeitos...

- Mereceu-lhe alguns reparos? Seja franco. Não se admitem palavras ambíguas.

- Não, minha senhora, eu não tenho reparos a fazer... quero dizer...

- Acha-a boa?

- Sim... achei... isto é...

- Parece-lhe que não é capaz de fazer melhor?

- Não tenho vaidades...

- Tem medo de estragar o bem que está feito?

- Todos podem errar... enfim...

- Temos entendido. Parece-me que Jorge, em vista disso, não discordará do seu parecer. Não é verdade, Jorge?

- Custa-me continuar a trabalhar clandestinamente; mas não me eximo a esforço algum para salvar a minha casa.

- Muito bem; agora o Sr. frei Januário pode dizer ao tio Luís que se cumprirão as suas ordens, e o mais que terá a fazer é assinar, sem ler, alguns papéis que porventura sejam necessários, isto nos primeiros dias, porque eu confio ainda na boa razão do tio.





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