Este contraste que apontamos era a circunstância que evocava no espírito de Jorge o espectro que o entristecia.
O dono da Herdade fora pobre, servira como criado na casa dos fidalgos, passara depois a rendeiro de um pequeno casal, mais tarde arrendara uma fazenda maior; chegando enfim a ser proprietário, tornara-se em pouco tempo possuidor de extensos bens, e era já o chefe de uma família numerosa e talvez o primeiro agricultor daquele círculo.
Porque prosperava a Herdade, e porque declinava o palácio? Se de tão pouco se chegara a tanto, como se podia cair de tanto em tão pouco?
Tais eram, em suma, as vagas reflexões que se assenhoreavam do espírito de Jorge, quando das janelas de seu quarto em umas das torres do palácio, ou do alto de alguma eminência, observava a animação, a vida da propriedade do seu antigo criado, e voltava depois os olhos para o vulto silencioso e como adormecido do velho paço dos seus maiores.