À porta encontraram-se com frei Januário, que voltava azafamado da cozinha, onde tinha ido dar ordens acomodadas à solenidade do caso e às impaciências e apetite do próprio estômago.
O padre limpava ainda os lábios ao lenço, para fazer desparecer os vestígios duma libação extra-oficial que de passagem fizera.
- Queira V. Ex.ª perdoar, Sr.ª baronesa, o aparecer-lhe ainda agora, mas as obrigações do meu cargo...
- Ó Sr. frei Januário, por quem é, lembre-se de que somos conhecidos antigos, e que até por vezes lhe dei motivos para me abjurar como jacobina. Tinha que ver se me preparava a honra de uma felicitação em forma. Onde está meu tio?
- O fidalgo não estava prevenido de que V. Ex.ª chegava tão cedo, e por isso ainda está recolhido no seu quarto, mas eu vou...
- Ai, não, não; por amor de Deus não o acorde!
- Não; ele está já a pé; mas enfim a fazer a barba e tal... sempre leva alguns minutos.
- Que se não apresse por minha causa. Eu iludirei a grande vontade que tenho de lhe beijar a mão conversando com o primo Jorge.
- Então, se V. Ex.ª me dá licença...
- Até logo, frei Januário.
E, quando ia já longe, acrescentou:
- Ó Sr. frei Januário, aquele grande dia que estava já para chegar na última vez que nos vimos, aquele dia de redenção, ao que parece não chegou ainda?
O ex-frade encolheu os ombros, e respondeu com ar de mistério:
- Ainda não é tarde, minha senhora. Pouco viverá quem o não vir.
Gabriela entrou rindo com Jorge para a sala.
- E Maurício - inquiriu ela - também já tem barba para fazer?
- Parece-me que saiu, ainda com estrelas, para uma batida de caça.
- Bom; esse, pelo que vejo, conserva puros os tradicionais hábitos de família.
Jorge sorriu.
- Tu é que degeneraste.