Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 170 / 519

Gabriela casara por conveniência, que não por inclinação, com um homem mais velho do que ela, sem foros de nobreza, mas pertencendo à classe argentária, que é a verdadeira aristocracia moderna.

Apesar disso soube ser esposa fiel e dedicada daquele homem que a livrara da precária condição em que a decadência da sua casa a colocara. Viuvando, Gabriela não deu indícios de se alistar nas diminutas falanges das viúvas inconsoláveis, mas não se precipitou na escolha de esposo. A sua beleza, o seu espírito e os rendimentos que herdara atraíram uma nuvem de adoradores, que ela ia deixando viver de ilusões, sem se dar para isso ao trabalho de fabricar, à imitação de Penélope, uma interminável teia. Esta vida e estes galanteios enfadavam-na, e, para distrair-se, empreendia pequenas viagens. Foi ao voltar de uma que fizera pela Espanha que recebeu a carta do tio, e resolveu desenfadar-se por algum tempo da vida das capitais visitando a sua província e os lugares onde passara a infância.

Tal era a baronesinha de Souto-Real, que acabara de apear-se no pátio lajeado da Casa Mourisca.

Jorge ajudou-a cortesãmente a descer.

- Agradecida, Jorge - disse ela, apertando-lhe a mão. - Fazes as honras do teu castelo com a galhardia de um perfeito cavaleiro.

- A prima não repare na modéstia com que a recebemos, mas pareceu-me que seria mais digno da nossa amizade e do seu carácter apresentarmo-nos tais quais somos do que encher o pátio de criados e jornaleiros a quem vestíssemos à pressa fardas...

E completou a meia voz:

- ... Emprestadas.

- Oh! por certo; e eu reconheço melhor a tua fidalguia, Jorge, na franqueza desta recepção do que na libré dos teus criados e nos brasões dos reposteiros.

E, conversando familiarmente com o primo, a quem tomara o braço, a baronesa subiu os degraus da escadaria que subia para a sala nobre.





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