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Capítulo 16: XVI

Página 198
Por fora e por dentro a mesma absoluta carência de confortos; porque não sentia a necessidade deles a robusta organização de qualquer dos proprietários, afeitos à vida dos montes, às longas caçadas e às lutas com os rigores do tempo. O solo árido, os celeiros vazios, a abegoaria deteriorada, os currais desertos, a cultura perdida... era desolador o aspecto do solar do Cruzeiro! Parecia havê-lo fulminado um daqueles tremendos anátemas de que rezam os livros santos, os quais feriam de esterilidade igual as entranhas da mulher e as entranhas da terra. Os pinhais, cortados sem método nem prudência, caíam sacrificados às penúrias monetárias do morgado, que ia a pouco e pouco transmutando em vinho toda a propriedade. As águas, vendidas para acudir a iguais urgências, abandonavam as terras à sede, que as fazia infecundas. Umas aparências de movimento agrícola que ainda se divisavam na quinta eram-lhe mais fatais do que benéficas, e podiam comparar-se ao fervedouro das larvas nas carnes em decomposição. Naquele vasto corpo que se decompunha, também se agitavam seres que viviam dos seus detritos.

Trabalhava-se ali para destruir e não para semear ou edificar. O desbarato com que os proprietários sacrificavam os seus bens atraía os ávidos vizinhos, como corvos sinistros em volta do cadáver exposto na estrada.

Era meio-dia, quando Maurício se apeou no espaçoso pátio da casa, onde reinava o silêncio das ruínas. Apenas se ouvia o latir de uma matilha encerrada nas lojas e impaciente por ir bater as matas e bouças. O aspecto que teria a vista de quem entrava era de uma propriedade inteiramente abandonada; ali apodrecia um arado inútil; além oxidavam-se os metais de inactivos instrumentos de lavoura; a água empoçada das últimas chuvas estancava, cobrindo-se de uma crusta esverdeada; as ortigas e parietárias vegetavam em plena liberdade nas junturas das lájeas e nos buracos das paredes.

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pág. 198 (Capítulo 16)

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Capa do livro Os Fidalgos da Casa Mourisca
Páginas: 519
Página atual: 198

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 18
III 25
IV 42
V 54
VI 62
VII 72
VIII 86
IX 102
X 114
XI 127
XII 137
XIII 145
XIV 155
XV 168
XVI 197
XVII 214
XVIII 233
XIX 247
XX 255
XXI 286
XXII 307
XXIII 317
XXIV 332
XXV 348
XXVI 358
XXVII 374
XXVIII 391
XXIX 401
XXX 414
XXXI 426
XXXII 440
XXXIII 450
XXXIV 462
XXXV 477
XXXVI 484
XXXVII 499
Conclusão 515