Ou o sol no poente lhe dourasse a fachada de granito, ou as ameias, que o coroavam, se desenhassem como negra dentadura no céu azul alumiado pela claridade matinal, era sempre melancólico e triste o aspecto daquela residência, sempre majestoso e severo.
Reparando mais atentamente, outros motivos concorriam ainda para fortalecer esta primeira impressão. O tempo não se limitara a colorir o velho solar com as tintas negras da sua paleta; derrocara-lhe aqui e além uma ameia ou um balaústre do eirado, mutilara-lhe a cruz da capela, desconjuntara-lhe a cantaria em extensos lanços de muro, abrindo-lhe interstícios, donde irrompia uma inútil vegetação parasita: e esta permanência de estragos, traindo a incúria ou a insuficiência de meios do proprietário actual, iniciava no espírito do observador uma série de melancólicas reflexões.
E se o movesse a curiosidade a indagar na vizinhança informações sobre a família que ali habitava, obtê-las-ia próprias a corroborar-lhe os seus primeiros e espontâneos juízos.
Os chamados Fidalgos da Casa Mourisca eram actualmente três. D. Luís, o pai, velho sexagenário, grave, severo e taciturno; Jorge e Maurício, os seus dois filhos, robustos e belos rapazes: o mais velho dos quais, Jorge, não completara vinte e três anos.
A história daquela casa era a história sabida dos ricos fidalgos da província que, orgulhosos e imprevidentes, deixaram, a pouco e pouco, embaraçar as propriedades com hipotecas e contratos ruinosos, desfalecer a cultura nos campos, empobrecer os celeiros, despovoar os currais, exaurir a seiva da terra, transformar longas várzeas em charnecas, e desmoronarem-se as paredes das residências e das granjas e os muros de circunscrição das quintas.
Filho segundo de uma das mais nobres famílias da província, D.