Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 23: XXIII Pág. 318 / 519

O procurador, a quem fora dada a ordem, perguntou timidamente se S. Ex.a saía a cavalo.

Com o seco laconismo de que, havia certo tempo, usava nas respostas ao padre, o fidalgo limitou-se a dizer:

- Parece que sim.

O padre tocou a campainha a chamar por um criado, a quem transmitiu a ordem recebida, acrescentando a de que fosse avisado o escudeiro para acompanhar S. Ex.a.

D. Luís acudiu com vivacidade:

- Quem lhe disse isso? Eu não preciso de acompanhamento. Que me tenham aparelhado o cavalo para de tarde.

- Então V. Ex.ª sai só?! - perguntou o padre, em quem esta quebra de pragmática causava grande confusão.

- Vou - respondeu D. Luís, continuando o seu passeio na sala.

O padre saiu dali estupefacto para a cozinha, onde foi assistir à última demão de uma empada, e nesse exame conseguiu felizmente desvanecer a violência da impressão que a ordem do fidalgo lhe havia produzido.

Efectivamente, pouco depois do jantar, ao qual Maurício não assistira, D. Luís montou a cavalo, e cortejando garbosamente a baronesa, que veio despedir-se dele à janela, partiu a meio trote pelos caminhos dos campos.

Era um último lampejo da sua elegância passada.

Na maneira por que dirigia o cavalo não se notava, porém, a indecisão própria de quem vai ao acaso. Percebia-se que o fidalgo havia marcado destino àquele passeio.

Tomou por atalhos de montes, evitando o centro da povoação rural, rodeou quase toda a freguesia, e, seguindo pelas raias das contíguas e por desvios ermos de casas e de cultura, por chapadas maninhas e pinhais, onde apenas se entrevia a choça do guardador, foi dar ao extremo oposto da aldeia, nas proximidades da Casa Mourisca.

E quanto mais perto se achava do abandonado solar, mais crescia o cuidado que o cavaleiro parecia ter em não ser observado e em dirigir por veredas pouco frequentadas a sua cautelosa carreira.





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