O procurador, a quem fora dada a ordem, perguntou timidamente se S. Ex.a saía a cavalo.
Com o seco laconismo de que, havia certo tempo, usava nas respostas ao padre, o fidalgo limitou-se a dizer:
- Parece que sim.
O padre tocou a campainha a chamar por um criado, a quem transmitiu a ordem recebida, acrescentando a de que fosse avisado o escudeiro para acompanhar S. Ex.a.
D. Luís acudiu com vivacidade:
- Quem lhe disse isso? Eu não preciso de acompanhamento. Que me tenham aparelhado o cavalo para de tarde.
- Então V. Ex.ª sai só?! - perguntou o padre, em quem esta quebra de pragmática causava grande confusão.
- Vou - respondeu D. Luís, continuando o seu passeio na sala.
O padre saiu dali estupefacto para a cozinha, onde foi assistir à última demão de uma empada, e nesse exame conseguiu felizmente desvanecer a violência da impressão que a ordem do fidalgo lhe havia produzido.
Efectivamente, pouco depois do jantar, ao qual Maurício não assistira, D. Luís montou a cavalo, e cortejando garbosamente a baronesa, que veio despedir-se dele à janela, partiu a meio trote pelos caminhos dos campos.
Era um último lampejo da sua elegância passada.
Na maneira por que dirigia o cavalo não se notava, porém, a indecisão própria de quem vai ao acaso. Percebia-se que o fidalgo havia marcado destino àquele passeio.
Tomou por atalhos de montes, evitando o centro da povoação rural, rodeou quase toda a freguesia, e, seguindo pelas raias das contíguas e por desvios ermos de casas e de cultura, por chapadas maninhas e pinhais, onde apenas se entrevia a choça do guardador, foi dar ao extremo oposto da aldeia, nas proximidades da Casa Mourisca.
E quanto mais perto se achava do abandonado solar, mais crescia o cuidado que o cavaleiro parecia ter em não ser observado e em dirigir por veredas pouco frequentadas a sua cautelosa carreira.