..
- Oh! por certo que não - atalhou Berta, cada vez mais agitada - eu sou... hei-de ser muito feliz...
E, não podendo reter mais tempo as lágrimas que lhe subiam impetuosas aos olhos, ocultou o rosto entre as mãos e pôs-se a chorar.
Jorge aproximou-se dela com compassiva solicitude.
- Porque chora, Berta? - perguntou ele com afabilidade. - Se por acaso foi contra sua vontade que deu aquela resposta ainda está em tempo. Ninguém lhe pede um sacrifício, repare. Porque chora assim, Berta?
Em vez de responder, Berta elevando para Jorge os olhos banhados de lágrimas, perguntou com a voz trémula ainda:
- Ficará pelo menos extinta de uma vez com este sacrifício a aversão que me tem, Sr. Jorge?
Jorge estremeceu.
- A aversão que lhe tenho?! Que diz, Berta?! Pois imagina!...
- E quer ainda negá-la? Não sei em que lha tenho merecido, mas existe, e bem clara se manifestou agora.
- Berta!...
- Não lho disse eu já no outro dia? E agora o que o moveu a encarregar-se dessa proposta? e por que o fez com aquelas palavras cruéis? Eu bem as percebi. Meu Deus, em que foi que o ofendi, Sr. Jorge, para ser tão severo comigo, quando para com todos é tão indulgente? A minha educação... Deus sabe se me deixei fascinar por ela, Deus sabe se não lutei sempre contra a imaginação, quando ela me fazia conceber loucuras, como a todas as raparigas da minha idade. Quem pode condenar-me por elas, se eu sou a primeira que as condeno? Em que tenho mostrado esses defeitos de educação, que tão severamente me censura? Se soubesse, Sr. Jorge, como percebendo o seu desdém, tenho sido escrupulosa em procurar em todos os meus actos o motivo dele... Deus é testemunha de que nada descobri... Fale, já agora que está consumado o sacrifício, já agora que deve julgar satisfeita a expiação que me impôs, tenho direito a exigir de si o cumprimento da promessa que há poucos dias não ousou recusar-me.