Berta atalhou:
- Não é necessário, meu pai. A minha resolução está formada. Pode mandar dizer a Clemente que aceito.
Jorge sentiu enevoarem-se as letras do livro, como se lhes passasse por diante uma nuvem escura.
Tomé insistiu:
- Não, filha; para que hás-de ser tão apressada? Valha-te Deus. Pensa, e depois resolverás.
- Já resolvi, meu pai - repetiu Berta com firmeza. - Clemente é um homem honrado, eu não posso aspirar a mais. Dizem que é uma alma generosa, há-de estimar-me, eu não procuro outras delicadezas além daquelas que sabem poupar-nos uma ofensa imerecida. E é tão fácil evitar ofender uma rapariga como eu!
E, dizendo isto, desviava na direcção de Jorge um olhar intencional.
- Pode mandar dizer a Clemente que aceito, meu pai - repetiu ela, concluindo.
- Vê lá! E agora que eu não quero que te constranjas! E agora deixa-me também falar a tua mãe, que sem a ouvir não é bom decidir nada. Espera-me aqui um pouco, que eu vou chamá-la.
E sem aguardar reflexões, Tomé, intimamente satisfeito com a pronta condescendência da filha, saiu da sala em procura de Luísa.
Jorge não desejaria conservar-se mais tempo ali, só, na presença de Berta, mas faltou-lhe o ânimo para levantar-se. Ambos se conservaram calados por algum tempo.
Jorge nem levantara os olhos do livro.
Berta foi quem primeiro rompeu aquele glacial silêncio.
- Devo-lhe agradecer, Sr. Jorge, o muito cuidado que lhe merece a minha felicidade.
Jorge ergueu a cabeça e fitou os olhos no semblante de Berta.
A violência que ela fazia para reprimir a sua profunda comoção era bem manifesta.
- Espero que Berta se não decidisse pelo partido que adoptou senão por sua livre vontade - disse Jorge com mais brandura do que até ali - e que a minha ingerência em tudo isto não influísse de maneira alguma para obrigá-la a sacrificar a sua felicidade.