Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 27: XXVII Pág. 382 / 519

Berta atalhou:

- Não é necessário, meu pai. A minha resolução está formada. Pode mandar dizer a Clemente que aceito.

Jorge sentiu enevoarem-se as letras do livro, como se lhes passasse por diante uma nuvem escura.

Tomé insistiu:

- Não, filha; para que hás-de ser tão apressada? Valha-te Deus. Pensa, e depois resolverás.

- Já resolvi, meu pai - repetiu Berta com firmeza. - Clemente é um homem honrado, eu não posso aspirar a mais. Dizem que é uma alma generosa, há-de estimar-me, eu não procuro outras delicadezas além daquelas que sabem poupar-nos uma ofensa imerecida. E é tão fácil evitar ofender uma rapariga como eu!

E, dizendo isto, desviava na direcção de Jorge um olhar intencional.

- Pode mandar dizer a Clemente que aceito, meu pai - repetiu ela, concluindo.

- Vê lá! E agora que eu não quero que te constranjas! E agora deixa-me também falar a tua mãe, que sem a ouvir não é bom decidir nada. Espera-me aqui um pouco, que eu vou chamá-la.

E sem aguardar reflexões, Tomé, intimamente satisfeito com a pronta condescendência da filha, saiu da sala em procura de Luísa.

Jorge não desejaria conservar-se mais tempo ali, só, na presença de Berta, mas faltou-lhe o ânimo para levantar-se. Ambos se conservaram calados por algum tempo.

Jorge nem levantara os olhos do livro.

Berta foi quem primeiro rompeu aquele glacial silêncio.

- Devo-lhe agradecer, Sr. Jorge, o muito cuidado que lhe merece a minha felicidade.

Jorge ergueu a cabeça e fitou os olhos no semblante de Berta.

A violência que ela fazia para reprimir a sua profunda comoção era bem manifesta.

- Espero que Berta se não decidisse pelo partido que adoptou senão por sua livre vontade - disse Jorge com mais brandura do que até ali - e que a minha ingerência em tudo isto não influísse de maneira alguma para obrigá-la a sacrificar a sua felicidade.





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