Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 36: XXXVI Pág. 493 / 519

D. Luís parecia pouco satisfeito com a discussão, que o colocava entre duas forças que igualmente o oprimiam.

- A minha vida é de sacrifícios; é destino. Devo estar preparado para aceitá-los com resignação.

- Resignação nada cristã; porque Deus não quer que nos resignemos com os males que podemos evitar, e muito menos quando é uma paixão ruim que os prepara.

- Uma paixão ruim! - exclamou o fidalgo mais exaltado - até que ponto a traz cega a corrente das ideias modernas, que já chama paixão ruim ao respeito que devemos ao esplendor das nossas casas?

- E que perderia esse esplendor com a aliança de Berta? Não é ela uma rapariga de sentimentos nobres, cheia de virtudes e de excelentes qualidades? Nessas famílias que mantêm o esplendor que diz, conta muitas noivas mais dignas de seus filhos? E depois, meu tio, deixe-me dizer-lhe: nós precisamos de misturar sangue novo ao nosso, senão morremos asfixiados nestes ares modernos. É verdade isto, as famílias que escrupulizam em não caldearem o sangue antigo que trazem nas veias dão de si uns descendentes quase sempre parvos e pecos, por isso mesmo que saem organizados para viverem em uma sociedade talhada por modelos que já se não usam, e não sabem viver na actual.

D. Luís não podia ainda habituar-se a ouvir tais doutrinas irreverentemente expostas por uma das representantes dessas vetustas famílias.

Era provável que as frases incisivas da baronesa lhe provocassem uma resposta apaixonada, se uma inesperada ocorrência o não viesse distrair.

Frei Januário, que ficara, como dissemos, oculto pelo cortinado do leito e despercebido tanto da baronesa como de D. Luís, ouvira com surpresa crescente o diálogo que temos descrito. Para ele eram ainda novidade os amores de Jorge e Berta, porque D.





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