Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 7: VII Pág. 79 / 519

As mais variadas e brilhantes imagens passavam-lhe pela fantasia, sem que se fixasse uma só delas. Era um suceder de ideias tão rápido, que parecia estonteá-lo, como o ilusório movimento das margens perturba o viajante nóvel arrebatado no convés velocíssimo de um barco a vapor.

No dia seguinte, teve lugar a solene conferência do padre e de Jorge.

Frei Januário tentou realizar a traça que com aplauso próprio delineara na véspera. Desdobrou em cima da mesa toda a papelada, amontoou, sem classificação nem escolha, procurações, recibos, contas, contratos de arrendamento, títulos de propriedades, escritos de quitação com a fazenda, e outros vários documentos, com intuito de assoberbar a inexperiência de Jorge e castigar-lhe as aspirações ambiciosas.

Depois de ter assim patenteado aquele caos aos olhos do seu proposto sucessor, o padre, encostando os braços à banca, apoiou o queixo entre as mãos, posição em que a boca repuxada lhe tomava um jeito de caricatura eminentemente cómico, e ficou à espera do resultado das suas manhas com um sorriso de malícia e triunfo.

Jorge, porém, não desanimou. Com um rápido lançar de olhos julgava da importância dos papéis, que sucessivamente examinava, e assim os punha de lado para segundo exame, ou os guardava como vistos.

Dentro em pouco tempo entrou a ordem no caos, e Jorge passou a mais minuciosa revista.

Frei Januário já se sentia um pouco incomodado com o andamento que ia vendo às coisas, e insensivelmente foi tomando uma posição mais discreta e fugiu-lhe do rosto o ar malicioso com que até ali observara Jorge.

Jorge acompanhou o segundo exame, a que procedeu sobre os papéis de importância, de uma série de perguntas que embaraçaram sobremaneira o padre. Reconheceu então que o filho de D.





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