Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 7: VII Pág. 81 / 519

Em uma palavra, o resultado da conferência foi exactamente o oposto ao que frei Januário prognosticara. Quem dela saiu atordoado, desgostoso e disposto deveras a não querer saber mais da administração da casa, foi o padre e não o rapaz.

Frei Januário viu com espanto esboroar-se o edifício da sua experiência, em cuja solidez ele próprio tinha a ingenuidade de acreditar, ao simples sopro de uma criança. A impressão que lhe ficou deste apertado inquérito foi tal, que o pobre homem começou a sentir um entranhado medo de Jorge, e a empalidecer só com a lembrança de uma cena como aquela.

Sempre que Jorge lhe dirigia a palavra dali por diante, já o padre previa com terror uma interpelação e ficava nervoso! Muito mais se D. Luís estivesse presente.

Assim pois, graças a estes medos, frei Januário, em vez de tornar-se vigilante em relação aos actos de Jorge, tratou de evitá-lo tanto quanto podia.

O desgraçado persuadira-se de que tinha cometido tantas faltas na sua administração, que o seu desejo era ver passar já sobre elas muitos anos para desvanecer-lhes os vestígios.

Jorge ficou pois completamente à vontade. D. Luís, interrogando o capelão, ouvira dele que Jorge estava habilitadíssimo para administrar a sua casa. Foi quanto bastou ao fidalgo para confiar cegamente no filho e para anuir sem exame a todos os seus projectos, como por tantos anos fizera aos do padre.

Portanto, sem desconfiança de pessoa alguma, pôde Jorge combinar com Tomé, em entrevistas nocturnas na Herdade, o seu plano de administração. Tomé era nestas coisas um prudente e avisado conselheiro. Estudaram ambos a maneira de remediar faltas cometidas, entraram em correspondência com o advogado do fazendeiro, por causa de uma velha e importante demanda da





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