casa; Jorge visitou todas as suas terras, celebrou novos e mais vantajosos arrendamentos sempre que pôde, e para estes primeiros actos levantou em segredo parte do empréstimo agenciado por meio do capital e do crédito de Tomé da Póvoa.
Causou espanto na terra a revolução administrativa da Casa Mourisca. Os que mantinham vistas interesseiras sobre bens do fidalgo e que, movidos por elas, entravam em transacções com a casa, conceberam ao princípio lisonjeiras esperanças, vendo que tinham a tratar com um moço inexperiente. Cedo porém se desenganaram, encontrando-o sempre cauteloso e perspicaz, graças à inteligência e aos conselhos do previdente Tomé, que entrava em tudo sem ser visto nem suspeitado sequer.
As entrevistas de Jorge e do fazendeiro tinham sempre lugar de noite, como já dissemos.
Jorge saía de casa quando já todos dormiam, menos Maurício, único que se recolhia ainda mais tarde e que nem sequer sabia das surtidas do irmão.
Tomé da Póvoa esperava-o na Herdade, onde o rapaz entrava com o mesmo mistério, e às vezes prolongavam-se até altas horas estes conciliábulos económicos.
Neles, ambos aprendiam. Tomé abria a Jorge os tesouros da sua muita experiência, e esclarecia-o com os conselhos ditados por um juízo e uma natural lucidez. Jorge, que já enriquecera a sua biblioteca de novos livros e de periódicos de agricultura, e de economia rural, falava a Tomé dos progressos e melhoramentos agrícolas dos países estrangeiros, e eram para ver a atenção e o entusiasmo com que o lavrador o escutava. Com o ânimo arrojado e despido do cego e supersticioso amor pelas práticas velhas, Tomé tomava nota de muitas dessas inovações, para as experimentar, praticando-as nas suas próprias terras. Que belos e grandiosos projectos de