- Às vezes é quando mais se aprende - respondeu-lhe Jorge, com mal disfarçada ironia.
- E até quando? - prosseguiu Berta, parecendo não atentar no sentido da resposta. - Há já bastante que não o víamos.
- Até... até cedo.
- O Sr. Maurício vejo-o mais vezes... ainda ontem aí passou.
- Sim, - disse Jorge, com um malicioso sorriso - Maurício tem essa habilidade de ser visto todos os dias por as mulheres bonitas da terra.
Berta olhou admirada para Jorge; feriam-na aquelas respostas secas e sarcásticas, que não esperava ouvir-lhe.
- Então dá-se ao trabalho de se mostrar a todas? - perguntou ela sem desviar os olhos.
- Sim, provavelmente - tornou Jorge no mesmo tom - e parece que todas se dão ao trabalho de lhe aparecer.
- Ah!
E Berta calou-se; fixou os olhos na costura e pareceu até esquecer-se da presença de Jorge na sala.
Este finalmente despediu-se, estendendo a mão a Berta.
- Boa noite, Berta.
Sem levantar os olhos da costura e portanto sem lhe corresponder ao gesto de despedida, Berta respondeu:
- Boa noite, Sr. Jorge.
- Ofendeu-se - pensava Jorge ao retirar-se - , então há fundamentos para as apreensões de Tomé. Juízo de rapariga afinal! Cabeça doida, que não espera que o coração se declare e alimenta paixões com reminiscências de romances. Pobre Tomé! E o que ele afinal colhe dos seus sacrifícios para a educar. Eu logo o supus...
As reflexões de Jorge sucederam-se e encadearam-se neste teor. Crescia nele mais do que nunca a sua irritação contra Berta.
- Mas que tenho eu com Berta - reconsiderava ele - , para me importar com isto? Afinal são pequenas fraquezas de rapariga e... Mas a amizade que consagro ao pai obriga-me a intervir. Maurício é um louco, e ela já vejo que não tem mais prudência do que outra qualquer rapariga da sua idade.