Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 14: XIV Pág. 159 / 519

E esta ideia de Berta ser sensível aos galanteios de Maurício era o que mais que tudo o incomodava.

E Berta? Que ficou pensando, com a cabeça inclinada sobre a costura, mas com a mão parada e o olhar pensativamente fixo?

- Por que é esta severidade de Jorge para comigo? - pensava ela. - Não posso já duvidar. Há nele não sei que prevenção contra mim. Ou não me fala, ou fala-me deste modo. Um motivo leve não pode ser, porque Jorge é, ao que dizem, um rapaz de tão bom senso que decerto por uma insignificância não me trataria assim. Mas que faria eu? Nada; se em mim há loucuras, ficam-me no pensamento e aí quem as vai devassar?... E que fossem?... E que as achassem?... Eu podia dizer-lhes: Sim, estão aí, mas eu bem sei que estão, e aí mesmo as sufoco e venço. Não sou responsável perante ninguém do que se passa em mim só. Entre mim e Deus é que essas coisas se julgam. Quando me revelar, quando me trair, que peçam contas então. A que vêm estas severidades? Que fiz eu a este generoso rapaz? Imaginará ele que o galanteio de Maurício me terá fascinado? É um carácter tão sério que talvez por isso me condene. Fascinar-me! Maurício!... Ao princípio talvez; agora, porém, vejo que se vão desvanecendo essas fantasias de criança, nascidas e robustecidas nas minhas horas de solidão no colégio e que senti alvoroçarem-se ao chegar aqui e ao vê-lo. Maurício não é o carácter de que eu me posso recear. E ainda bem. Mas Jorge porque me quererá mal? Lembra-me que meu pai me disse que, se ele não fosse meu amigo, não me dizia o que era... E ele ainda não mo disse.

Estas reflexões foram interrompidas pela entrada de Tomé, que, satisfeito pela promessa de Jorge, já não sentia nuvens a escurecer-lhe o pensamento.

Jorge chegou a casa antes do irmão.





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