Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 178 / 519

Mas o que eu não queria é que sacrificasse mais do que deve. A sua vida, a sua felicidade tem o direito de dar a esse sacrifício. Mas a vida, o futuro, a honra e a felicidade de seus filhos, isso não.

- A honra?! A honra é que eu quero salvar-lhes.

- E quem lhe diz que eles têm as suas convicções?

Os olhos de D. Luís fuzilaram ao ouvir esta insinuação.

- Se os meus filhos...

- Sei o que vai dizer, - atalhou Gabriela - mas não diga, porque contradiz os seus próprios actos. Esmerou-se em dar educação a seus filhos, em desenvolver-lhes a inteligência, e agora quer que eles não usem esse instrumento que possuem, e que para pensar lhe venham pedir licença? Não valia ensinar-lhes a raciocinar nesse caso.

- A razão deve-lhes ter mostrado a verdade.

- A verdade... Ora valha-nos Deus, meu tio; e quem sabe onde ela está? Pois todas estas mudanças que sucedem no mundo, de que procedem senão de se julgar a cada passo ter-se descoberto que a verdade não está onde se supunha?

- Vejo que a convivência social lhe tem dado uma boa dose de filosofia para bem viver no mundo. Mas que quer? Eu regulo-me ainda por as cartilhas velhas.

- E o que lhe ensinam a fazer as cartilhas velhas a favor de seus filhos? O que é que, em harmonia com elas, tem tentado e tenciona executar?

- Dar-lhes o exemplo de como se sofre na adversidade, quando se têm brios e um nome que respeitar.

- A nobreza não está em sofrer de braços cruzados a adversidade, quando eles se podem empregar nobremente em repeli-la; Jorge bem o compreendeu. Esse ilustrará deveras o seu nome da única maneira por que nestas circunstâncias ele pode ser ilustrado. O que é preciso é que a ociosidade de Maurício lhe não anule os esforços.

D. Luís ia a replicar quando o padre procurador entrou a anunciar que o almoço estava na mesa.





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