Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 177 / 519

- Perdão; mas como viu por ela isso?

- Desde o princípio ao fim. Não me diz que para que Maurício abra carreira no mundo é necessário condescender com certas coisas?...

- Ai, sim, mas quem é que não tem de condescender nesta vida?

- Gabriela, - tornou D. Luís com certa aspereza - já há pouco lho disse: as nossas idades diferem. Quando se possui a sua juventude há movimentos fáceis, a que se não prestam as fibras inflexíveis dos meus sessenta anos.

- Sim, mas quando se é jovem como Maurício e se está nas circunstâncias dele, das quais estou informada pela sua obsequiosa confidência, é menos prudente não ceder um pouco no tempo em que se pode ainda ceder com dignidade; porque depois... a vida para ele é longa, e quem sabe a que provações e sacrifícios o sujeitará? O tio está em uma idade avançada, não espera numerosos anos de vida, não ama demasiadamente o mundo, e para a luta conta com a inflexibilidade das suas fibras de sessenta anos. Mas eles, seus filhos, são novos, têm futuro, amor à vida, e não possuem ainda a tal inflexibilidade para sustentarem o peso de uma instituição morta sem vergar ou quebrar debaixo dela. Veja bem.

- De uma instituição morta! - repetiu o fidalgo, acentuando as sílabas e levantando os olhos para o tecto.

- Morta, sim, meu tio, desengane-se. Deus me livre de falar agora em política com o tio. Mas a verdade é que quem vive em certa sociedade, e ouve certas coisas, e estuda certos homens, acaba por convencer-se, mesmo sem pensar muito nisso, de que um sonho como o de meu tio é... é... é um sonho.

- Seu pai morreu por um sonho assim, Gabriela.

- E eu venero a memória de meu pai, não o duvide; assim como venero o carácter e as opiniões de meu tio; porque venero todas as convicções sinceras.





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