Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 20: XX Pág. 273 / 519

- A fazer o quê?

- Isso só ele sabe e Deus. Mal almoçou foi para lá com três criados. Diz ele que, já que o fidalgo teima em lhe pôr as chaves em casa e que todo se espinhou por ele lhe querer ser prestável, vai fazer o bem que puder a sua família, e melhorar a quinta e a Casa Mourisca, e que, ainda que tenha de empenhar os seus teres e os dos filhos, se há-de vingar do fidalgo, fazendo-lhe todo o bem que estiver na sua mão. E tirem-lhe lá isso da cabeça!

- É uma alma generosa a de Tomé, mas eu o dissuadirei dessa vingança, que viria transtornar os meus planos e tirar-me a glória, a que aspiro, de trabalhar por minhas próprias mãos nessa obra de restauração.

- Eu não o disse? «Tomé, tu não faças nada sem falares com o Sr. Jorge.» Mas qual! Bem lhe importava ele com que eu lhe pregava! É um bom-serás o meu Tomé. Em vinte anos de casada, nunca me deu um desgosto. Pode haver maridos tão bons como ele, melhores não posso crer que haja. Devo dizer o que é verdade. Mas lá de quando em quando, em se lhe metendo umas cismas na cabeça! adeus, minhas encomendas! já se lhe não dá volta. Só o Sr. Jorge. Ele lá ao Sr. Jorge ainda cede. E o que ele lhe não fizer, escusam de vir aí os poderes do mundo, que nada fazem. Lá o Sr. Jorge! credo! Isso basta ouvi-lo falar em si. Ora, não é agora por estar presente, mas razão tem ele para fazer o que faz.

- Obrigado, Sr.ª Luísa.

- Obrigado porquê? Ó filho, não, a minha boca não é para gabar quem não o merece. Mas, diga-me cá, que rapaz há aí que faça o que o menino faz? Que na sua idade, em que enfim todos sabemos que o que se quer é brincar, olha como um homem por a sua casa, como nem muitos velhos sabem. E depois, ó Sr. Jorge, sempre lhe digo que ainda há bem poucos dias estes olhos choravam bastantes lágrimas por sua causa.





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