Depois Jorge subiu lentamente as escadas que conduziam à sala onde estava Berta. Ao vê-lo subir o primeiro degrau, ela tentou retirar-se; mas susteve-a uma inexplicável hesitação e, quando Jorge abriu a porta, ainda a encontrou na sala.
O olhar de Jorge desviou-se de Berta, como se contrariado com a sua presença.
- Vim talvez importuná-la? Perdoe. Ignorava que a acharia aqui - disse Jorge com aparente placidez.
Berta não estava menos constrangida ao responder-lhe:
- Importunar-me? De maneira alguma... Eu é que sinto que meu pai não esteja em casa, que é decerto quem o Sr. Jorge procurava.
- Ah! seu pai não está em casa?
- Não; saiu agora mesmo.
Berta não ousou dizer para onde.
O nome da Casa Mourisca recordaria a cena do jantar, e Berta tremia de recordá-la diante de Jorge.
Este caminhou para a janela, distraidamente. E, passeando a vista por os campos, perguntou, sem ainda olhar para Berta:
- Não sabe se o pai tardará muito?
- Eu... julgo que sim... Mas talvez minha mãe o possa informar melhor.
A propósito chegava Luísa para dar informações precisas e para fazer cessar o constrangimento daquele diálogo, cuja prolongação seria um martírio para ambos.
- Ah! Sr. Jorge, Sr. Jorge, - exclamou Luísa logo que o viu - ainda bem que veio, e pena é que não viesse meia hora mais cedo.
- Então era cá tão necessária a minha presença?
- Ora se era! Eu ponho as mãos numas horas se, estando cá o Sr. Jorge, se metia aquela cisma na cabeça do meu Tomé.
- Que cisma é essa de que fala?
- Pois então não sabe para o que havia de dar àquele homem de Cristo?
- Não sei, não.
- Ó Berta, então tu não disseste ao Sr. Jorge para onde teu pai foi?
- Eu... eu ignorava...
- Ora adeus! Se eu não tenho falado de outra coisa desde que saiu! Ignorava! Vocês sempre têm coisas! Pois o meu Tomé está a estas horas na Casa Mourisca.