O cavalo parou espontaneamente à porta da Casa Mourisca e arrancou Jorge à corrente de vagas cogitações em que lhe flutuava o espírito.
- Vamos, Jorge - dizia ele a si mesmo, ao desmontar -, já agora é necessário ser rapaz de juízo até ao fim. Tu não tens direito de condescender com a tua mocidade, homem. Ninguém te relevaria os ardores da juventude, porque todos te supõem o sangue de gelo.
E, serenando outra vez a fisionomia, até ali um pouco alterada sob a influência de encontrados pensamentos, entrou para a quinta em procura de Tomé, que o precedera aí. Quando, depois de algumas pesquisas, Jorge, guiado por o som de vozes e por um ruído de sachos e de enxadas, conseguiu avistar o fazendeiro, não pôde reter um sorriso de estranheza e de simpatia, que o espectáculo que via lhe provocava.
E tão grato efeito parecia produzir-lhe esse espectáculo, que, sem ter querido interrompê-lo com a sua presença, continuou por algum tempo observando-o.
Efectivamente, para quem soubesse a verdadeira significação dos actos em que Tomé estava empenhado naquele momento, não seria para estranhar o sorriso de Jorge, nem a sua expressão dúplice de simpatia e de espanto.
Tomé não havia meditado no plano para a vingança que jurara contra o fidalgo. Ansiava por principiar a pô-la em prática, e encetou-a sem método nem sistema. Intimou os criados para que o acompanhassem, sem que tivesse ainda pensado no que lhes mandaria fazer.