Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 21: XXI Pág. 298 / 519

Doideje o coração à sua vontade, contanto que só eu o saiba... Mas a luta é comigo e não com ela... Berta tem razão em perguntar o motivo da minha hostilidade. A minha hostilidade! Ah que se ela tivesse um olhar mais penetrante... Disso é que me receio... Não há que ver, hei-de preocupar tanto, tanto, tanto a minha cabeça com algarismos e negócios, que hei-de por força perder a consciência dos afectos, e é assim que hei-de matá-los.

Neste momento vencia Jorge o declive que levava à porta principal da Casa Mourisca. O caminho, desafrontado naquela altura de árvores e de sebes altas, subia à vista do casal de Tomé e permitia descobrir na encosta fronteira as veredas que para lá se conduziam.

Jorge desviou naturalmente a vista para aquele sítio.

Na varanda de entrada divisava-se ainda o vulto de Berta, na mesma posição em que a deixara.

Alvoroçou-se o coração do rapaz com isso; ao mesmo tempo, porém, ia subindo, na direcção da Herdade, um cavaleiro que ele reconheceu ser Maurício.

Esta nova descoberta desagradou-lhe manifestamente. Purpurearam-se-lhe as faces por momentos, e a fronte contraiu-se-lhe com uma expressão de desgosto. Pela primeira vez fustigou o cavalo, que até ali deixara entregue ao capricho.

Maurício, que também da outra margem avistara o irmão, fez-lhe um aceno com a mão, ao qual Jorge respondeu apontando-lhe para a Casa Mourisca, como a designar-lhe o motivo do seu passeio. Maurício replicou-lhe com um movimento de braços, exprimindo que o seu giro era mais extenso e para o outro lado. E na direcção que seguia era inevitável a passagem por casa de Tomé da Póvoa.

- Por isso ela se demorou na varanda - murmurou Jorge com amargura; e prosseguiu, olhando para Maurício:

- Aquele pode ser louco à sua vontade; ninguém lho estranhará, ninguém lhe fará disso um crime.





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