Neste momento vencia Jorge o declive que levava à porta principal da Casa Mourisca. O caminho, desafrontado naquela altura de árvores e de sebes altas, subia à vista do casal de Tomé e permitia descobrir na encosta fronteira as veredas que para lá se conduziam.
Jorge desviou naturalmente a vista para aquele sítio.
Na varanda de entrada divisava-se ainda o vulto de Berta, na mesma posição em que a deixara.
Alvoroçou-se o coração do rapaz com isso; ao mesmo tempo, porém, ia subindo, na direcção da Herdade, um cavaleiro que ele reconheceu ser Maurício.
Esta nova descoberta desagradou-lhe manifestamente. Purpurearam-se-lhe as faces por momentos, e a fronte contraiu-se-lhe com uma expressão de desgosto. Pela primeira vez fustigou o cavalo, que até ali deixara entregue ao capricho.
Maurício, que também da outra margem avistara o irmão, fez-lhe um aceno com a mão, ao qual Jorge respondeu apontando-lhe para a Casa Mourisca, como a designar-lhe o motivo do seu passeio. Maurício replicou-lhe com um movimento de braços, exprimindo que o seu giro era mais extenso e para o outro lado. E na direcção que seguia era inevitável a passagem por casa de Tomé da Póvoa.
- Por isso ela se demorou na varanda - murmurou Jorge com amargura; e prosseguiu, olhando para Maurício:
- Aquele pode ser louco à sua vontade; ninguém lho estranhará, ninguém lhe fará disso um crime.