Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 27: XXVII Pág. 376 / 519

É um rapaz de lavoura, como não podia deixar de ser o marido de Berta, que filha de lavrador nasceu também; mas sempre tem mais um bocadinho de educação do que esses machacazes que por aí conheço, a quem não entregaria a filha nem que ma pesassem a oiro. O Clemente não, o Clemente é um homem que sabe dar o valor às coisas, há-de conhecer que a minha Berta sempre se criou por a cidade, e que por isso exige outro tratamento que não o dessa raparigada por aí, que de qualquer maneira está bem. Pois não acha que tenho razão, Sr. Jorge?

- Sim - respondeu Jorge, levantando-se e encaminhando-se para a janela, como para dissipar o despeito que lhe causava a maneira por que Tomé falava daquela aliança -, sim, Clemente tem maneiras mais polidas, e, como diz a mãe dele, sabe muito bem fazer uso da senhoria e da excelência pela prática da correspondência oficial.

- Isso lá histórias - tornou Tomé, sem perceber a meia ironia das palavras de Jorge -, que para nada lhe serve a senhoria e a excelência para o casamento. Entre marido e mulher não ficam bem essas cerimónias, e não há como «tu» entre quem se quer bem.

Estas palavras incomodaram tanto Jorge que principiou a tocar ruidosamente nos vidros, como para não as ouvir. «Tu» entre Clemente e Berta!

Tomé continuou:

- Mas eu não queria dizer isso. Quando falava nas maneiras do Clemente, queria dizer que ele tem isto, que não sei bem como se chama, isto de um homem saber tratar com uma pessoa delicada sem a ofender. Porque, vê o Sr. Jorge? eu conheço homens que tiveram grande educação, muitos mestres e muitos estudos, sim, senhores, e que estão sempre a dizer coisas que ofendem os outros. Enquanto que muitos, que não foram tão bem olhados em pequenos, têm lá não sei que dom de conhecer as pessoas e sabem viver com elas sem nunca as escandalizar.





Os capítulos deste livro